Há 26 anos, George Soros tornou-se “o homem que quebrou o Banco de Inglaterra” quando, numa aposta contra a libra, lucrou mil milhões de libras (1,123 milhões de euros, à taxa de câmbio atual). No dia 16 de setembro de 1992, que ficou conhecido como ‘quarta-feira negra’, o Banco de Inglaterra perdeu um total de três mil milhões de libras (3,370 milhões de euros) para especuladores.
Apesar de tanto a ‘segunda-feira negra’ como a ‘terceira-feira negra’ terem ficado marcadas por dias de terror em Wall Street, a ‘quarta-feira negra’ aconteceu no Reino Unido e não nos Estados Unidos. Os especuladores não quebrar a libra, mas obrigaram o banco central e o governo britânicos a retirarem a libra esterlina do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio.
Após anos de resistência em que seguia ocultamente o marco alemão, a adesão da libra ao mecanismo, em 1990, fazia parte de um esforço do Reino Unido para solidificar relações com as economias da Europa continental. O objetivo era manter a paridade acima de 2,7 marcos por libra. No entanto, a situação das economias britânica e alemã eram consideravelmente diferentes.
De um lado, a economia alemã enfrentava as dificuldades da reunificação do país, cujos custos faziam acelerar a inflação. Do outro, a economia britânica enfrentava uma recessão e a libra negociava em mínimos do intervalo estabelecido pelo mecanismo. A 16 de julho de 1992, o Banco Central da Alemanha subiu as taxas de juro e, para manter a estabilidade da moeda, o Banco de Inglaterra acompanhou o aumento.
Foi nessa altura que os especuladores começaram a olhar para o Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio e a questionar-se spor quanto tempo as taxas de câmbio fixas iriam combater o mercado. Investidores apostavam na compra de marcos e vendiam libras, enquanto, no mercado, surgia o rumor que o rumor de que a libra iria ser desvalorizada.
Em agosto desse ano, o ministro das Finanças britânico, Norman Lamont, garantia que a libra não ser alvo de desvalorização e que o Reino Unido iria continuar no mecanismo. A situação complicou-se, no entanto, quando Itália decidiu desvalorizar a moeda e, devido às regras do mecanismo, a Alemanha fez o mesmo.
A 15 de setembro de 1992, o governador do Bundesbank (o banco central da Alemanha), Helmut Schlesinger, afirmou numa entrevista que seriam necessárias mais desvalorizações cambiais. No dia seguinte, a venda de libras foi massiva. “O Bundesbank estava basicamente a pedir para que os especuladores apostassem contra as moedas mais fracas. Só seguimos a dica”, afirmou George Soros, em 1997, à BBC.
O Banco de Inglaterra tentava a todo o custo impedir os especuladores e o Tesouro chegou a gastar dois mil milhões de libras para comprar moeda e elevar artificialmente o preço. O investidor norte-americano de origem húngara vendeu cinco mil milhões de libras enquanto estavam com um preço elevado para voltar a comprar quando o valor caiu a pique.
A diferença deu a Soros um ganho de mil milhões de libras e uma reputação de ser um dos maiores especuladores de moeda do mundo. Após perceber o montante que tinha perdido em apenas alguns dias, o governo britânico foi obrigado a ceder. A compra de libras não era suficiente, o Banco de Inglaterra subiu as taxas de juro e a libra saiu do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio. O ato de desespero acabou, no entanto, por resultar numa libra mais forte.
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