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Quase 40% do novo crédito à habitação já é a taxa fixa

Historicamente, cerca de 99% dos empréstimos para a compra de casa eram concedidos a taxa variável. Mas a banca protege-se agora das taxas negativas.
Cristina Bernardo
3 Outubro 2016, 10h09

Quase 40% do novo crédito à habitação já está a ser concedido a taxa fixa. Uma alteração de tendência histórica em Portugal, onde cerca de 99% do crédito era concedido a taxa variável (ver gráfico), regra geral, associada às taxas Euribor a três e seis meses. Este é um efeito da entrada das taxas Euribor em terreno negativo. Com os indexantes a corroerem o prémio de risco dos bancos, ou seja, os ‘spreads’, os bancos limitam hoje a sua oferta a taxa variável indexada à taxa Euribor a 12 meses e a taxa fixa, que tem vindo a ganhar expressão nos últimos meses.

De acordo com dados do Banco Central Europeu, apenas 66% dos novos empréstimos para a compra de casa foram contratados com taxa variável em julho. No mês anterior, quase metade do crédito foi mesmo concedido com taxa fixa, 45%.

O ambiente prolongado de baixas taxas de juro é atualmente um dos principais desafios para a banca portuguesa, desde logo devido ao elevado peso de créditos com taxas indexadas, nomedamente no crédito à habitação. Historicamente, a banca nacional garantia o ‘spread’, o seu prémio de risco, e passava o risco das taxas de juro de mercado para o cliente. Recorde-se que, em meados de 2008, no auge da crise do ‘subprime’, os clientes bancários suportaram mesmo taxas de juro superiores a 5%, aos quais se somavam ainda o valor do ‘spread’. No entanto, com as Euribor em terreno negativo, aquilo que era o conceito de ‘risco de mercado’ inverte-se a favor dos clientes, o que significa que passa a ser suportado pelos bancos.

Outro problema com o qual as instituições se deparam hoje resulta da maior importância dos depósitos na estrutura de financiamento – representam hoje cerca de 70% do ativo da banca portuguesa. Em teroria, as taxas Euribor deveriam representar o custo do capital para os bancos (no mercado interbancário), o qual seria depois repercutido nos seus clientes. No entanto, o mercado interbancário continua relativamente fechado para a banca portuguesa, por um lado e, por outro, os bancos viram-se obrigados a financiar a maioria dos créditos com recurso aos depósitos por exigência da troika. Ou seja, uma fonte de fi­nanciamento mais cara para os bancos e cujas taxas de juro, por imposição legal, nunca poderão ser inferiores a zero.

Apesar da forte quebra na concessão de crédito com taxa variável, Portugal continua a ser um dos países europeus onde o crédito indexado tem maior expressão, só ultrapassado pelas regiões do Leste, pela Irlanda e pela Grécia. Na zona euro, em média, apenas 18% do crédito à habitação é concedido com taxa variável.
A recente aposta da banca nacional na taxa fixa é a forma encontrada pelas instituições financeiras para protegem a sua margem financeira e a sua rentabilidade, o que não significa no entanto que a taxa fixa seja a me­lhor opção para quem contrata crédito (ver texto ao lado).

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