Os tempos presentes são de inquietação. As alterações climáticas, com os incêndios e os tufões que nos começam a visitar, parecem estar a despertar a sociedade portuguesa e os responsáveis políticos, apesar de tardiamente, para essa nova realidade.

Sabe-se que nem tudo o que aconteceu em 2017 se deve às alterações climáticas. Houve muito desleixo acumulado e ausência de visão. Daí, a preparação para enfrentar as situações de futuro estar a marchar a passo lento e nem sempre pelo melhor caminho.

As rupturas de processo tardam. A prevenção sustentada continua parente pobre. É fundamental romper com certas rotinas, mudando conhecimentos e métodos, se queremos ter um Futuro melhor “dominado”.

As indústrias do futuro, também conhecidas por 4ª revolução industrial, um termo algo impreciso mas conciso e na sequência de designações anteriores (1ª, 2ª e 3ª revoluções industriais) há muito que nos andam a bater à porta, a exigir respostas.

Começamos a entrar em fases determinantes nestas indústrias/actividades económicas e, como para as alterações climáticas, percebe-se que vigora algum adormecimento a vários níveis na equação de medidas e de decisões. E não se pode alegar a falta de alertas. O acolhimento entre nós de alguns eventos, como a Web Summit, até devia funcionar como despertador.

As sociedades acabam sempre por adquirir capacidade para ajustar o chip às rupturas sociais, decorrentes do avanço das forças produtivas. O problema está nos custos sociais que os atrasos de preparação sempre comportam.

Revisitando a história, ela diz-nos que esses ajustamentos acabam por fazer-se no meio de grandes turbulências sociais e períodos prolongados diferenciados no tempo, em termos geográficos, o que traz um problema ainda maior, de efeitos mais complexos e duradouros, traduzido em períodos de transição longos de uma formação económica para outra.

Na realidade, as mudanças radicais nas forças produtivas (conjugação da força de trabalho humana com os meios de produção) geram um grande antagonismo e fractura nas relações sociais de produção, geradas e consolidadas na anterior situação, por conseguinte, em desfasamento com o avanço tecnológico, pelo que tendem a conservar-se e a resistir à mudança. Daí os choques.

Esta situação está presente e em desenvolvimento acelerado no contexto da 4ª revolução industrial. Onde começam os efeitos mais visíveis? No emprego, na qualidade do emprego que as novas tecnologias requerem.

As necessidades de emprego de hoje não correspondem, de uma maneira geral, ao emprego tradicional e mesmo esse já o é em moldes novos. E então surge a grande questão. Estará a nossa sociedade sensibilizada para criar as condições para a qualificação do emprego do Futuro, do emprego necessário e adequado aos novos desafios da 4ª revolução industrial?

E aqui olhamos logo para o ensino que temos e passamos a questioná-lo.

É evidente que o ensino não é a única base para a preparação do novo tipo de emprego. A pedra angular é a mentalidade e o conhecimento. Mas o ensino é, sem dúvida, um dos pilares-chave. Não sendo um especialista no campo do ensino, tenho “a percepção”, como todo o cidadão comum, de que há um grande desfasamento, em termos de conteúdo e forma de aprendizagem, entre o sentir dos jovens e o ensino que lhes é ministrado.

A preparação para o Futuro pelo lado do ensino, tudo indica, está desajustada. E existem sintomas de que estamos a trilhar um caminho que favorece o desinteresse do aluno, ao nível de todos os graus de ensino, designadamente porque se ensinam matérias desnecessárias e, sobretudo, sem dar a noção do seu enquadramento na vida futura.

Será que se constata um desajuste real, de facto, entre os conhecimentos do professor e o aluno já nascido em plena sociedade tecnológica em movimento? Ou serão os conteúdos que não se ajustam ao tempo presente? Ou serão as duas coisas em simultâneo?

É uma questão do máximo interesse, independentemente das disciplinas curriculares. Aliás, sobre estas tende-se a pensar que os avanços tecnológicos são apanágio apenas de disciplinas, digamos mais técnicas, como a matemática, a física, a economia… Mas a história, o português, todas elas devem contemplar a vertente tecnológica, não no sentido do power point, como meio de comunicar a lição, mas como parte integrante do conteúdo. Interiorização das tecnologias.

Tenho a noção de que a visão dominante é a do power point. No ensino superior, área de que tenho mais informação/contacto, apesar de reconhecer avanços, considero que, em muitos domínios, não bastam, estão longe de ser suficientes. Pouco ou nada mudou face a anos já longínquos. Quase me atrevo a dizer que, em determinadas matérias, até se recuou.

Falta sobretudo enquadramento e perspectivas futuras do ensino, em vez de um conjunto de aptidões predeterminadas que, de certeza, não serão as da sociedade dos anos vindouros.

Para mim, isto constitui uma falha estruturante na preparação dos novos empregos. Pouco se é alertado ao longo da vida estudantil e, da Universidade em particular, para as rupturas económicas e sociais que nos estão a bater à porta.

A chegada das redes sociais trouxe a facilitação generalizada das comunicações entre as pessoas. Confundiu-se esta situação com uma certa “democratização” da sociedade e do avanço social.

Pelo contrário, assistimos a uma crescente manipulação da sociedade por parte destas redes através de “fake news”, desde as mais primárias às mais sofisticadas. Redes estas controladas cada vez mais intensamente por um menor número de grandes grupos tecnológico-financeiros a nível mundial.

As pessoas, entretidas com a facilitação de comunicações, andam distraídas e não acompanham a faceta de quem domina quem e o quê. Qualquer dia, teremos esses grandes grupos a “indicar-nos” o sentido do nosso voto… Pessimismo a mais? Espero, mas o mundo está a entrar em grande descontrolo.

Importa contrariar esta tendência negativa que essas novas indústrias nos trazem e canalizar a parte positiva dos avanços tecnológicos para o aumento do nível de vida das pessoas, a promoção da cultura e os tempos de lazer.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.