Na nossa sociedade pretensamente meritocrática, a ideia de sucesso coaduna-se quase obrigatoriamente com a frequência do Ensino Superior, onde quanto mais longe se chegar, melhor.

Exigimos às crianças e jovens que se esforcem e alcancem bons resultados ao longo da sua vida estudantil e académica para que tenham “um bom futuro”, com excesso de horas letivas e trabalhos de casa, penhorando o tempo que deveriam ter para serem simplesmente crianças e jovens. Porém, a sociedade que apela a cada vez mais estudos e especializações é a mesma que não consegue garantir melhores situações profissionais: há cada vez mais pessoas com mais qualificações do que as necessárias para as funções que desempenham e a taxa de desemprego é mais do dobro da dos seus antecessores.

A conclusão é de um estudo publicado pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia. A tendência estará relacionada com o aumento da escolarização ao longo do tempo e a progressiva substituição dos trabalhadores mais velhos por mais novos e mais escolarizados, sem que tal se tenha refletido numa melhoria da situação profissional. Assim, mais de 18% das pessoas trabalhadoras detém um nível de sobreescolarização.

Aquelas e aqueles que apelidamos de “o futuro do nosso país” enfrentam mais um desafio além do desemprego: uma dificuldade no mercado de trabalho, de acordo com os investigadores, “em alocar eficientemente os trabalhadores mais qualificados a postos de trabalho com exigências correspondentes”. Este é mais um fator que pode levar esta geração a escolher o estrangeiro para iniciar ou continuar o percurso profissional. Perdem os jovens, que se veem obrigados a sair do seu país; perde o país, que continua a não saber valorizá-los e ganham os países de destino, que terão jovens profissionais altamente qualificados, com vontade de trabalhar, despertos para os desafios do nosso tempo e conscientes da necessidade de inovar de mãos dadas com a sustentabilidade do planeta.

Neste contexto não podemos deixar de ter em conta também o impacto da crise provocada pela Covid-19 no desemprego jovem. De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo INE, relativos a outubro e novembro de 2020, a taxa de desemprego de jovens foi, respetivamente, 24,7% e 23,3%. Já nos meses homólogos de 2019, a taxa de desemprego de jovens fixava-se, respetivamente, nos 17,9% e nos 18,6%. Se os jovens já não tinham a vida facilitada ao chegarem ao mercado de trabalho antes da pandemia, agora o seu futuro está ainda mais comprometido.

A retoma económica pós-Covid-19 é o momento ideal para repensarmos o lugar dos jovens no mercado de trabalho, com quem devemos analisar as dificuldades e planear as oportunidades e ferramentas para valorizar e dignificar as suas competências, num mercado de trabalho que quer sempre mais, mas que pouco ou nada devolve como recompensa.

Se não o fizermos agora, estamos a hipotecar mais uma geração altamente escolarizada e frustrada com o que o país tem para oferecer e a fazer jus à velha máxima: “Esforçar-me para quê?”.