As crises nunca são fáceis, porque nos obrigam a fazer escolhas que em circunstâncias normais preferíamos evitar. Mas são também oportunidades para mudar de rumo e fazer as coisas de forma diferente.

O momento que o país atravessa é extremamente grave, tanto do ponto de vista sanitário como económico. A pandemia continua a provocar vítimas e não dá sinais de abrandar, apesar do passo positivo que constitui o arranque do processo de vacinação. Por outro lado, Portugal está cada vez mais endividado, milhares de empresas vão morrer antes do fim da pandemia e o sector do turismo – que desempenhou um papel decisivo nos últimos anos – está em ruínas. Largos milhares de portugueses perderam ou vão perder os seus empregos e os seus negócios e muitos ficarão com as suas vidas destruídas. Este é o lado mau, ou péssimo, para ser mais exato.

O lado menos mau é que temos a oportunidade de fazer reset em várias áreas e reconstruir a economia em moldes mais sustentáveis, inovadores e competitivos, se soubermos aproveitar a oportunidade.

Porém, conseguirá Portugal utilizar os anunciados fundos europeus – que o Governo classificou como “oportunidade histórica” – para dar esse salto qualitativo? O futuro dirá, mas dada a aposta em projetos como o hidrogénio verde, será legítimo recear que se possam repetir alguns erros do passado.

Por outro lado, para que possamos relançar a economia noutros moldes, será necessário criar condições para o investimento privado e fazer a eternamente adiada reforma do Estado. O apoio do BCE não vai durar para sempre e, mais tarde ou mais cedo, será necessária consolidação orçamental para manter o défice sob controlo. Resta saber se haverá condições políticas para dar esse passo através de uma verdadeira reforma do Estado, em vez de mais uma vez recorrer a cativações e outras medidas que, não resolvendo o problema de fundo, permitem manter a ilusão de que não existe austeridade e degradam a qualidade dos serviços públicos.