Uma frase a que nos habituámos nos últimos dois anos é a de que o PS está refém da geringonça. Ouvimo-la sempre que os impostos aumentam, que as corporações da função pública são beneficiadas. Quase como se, sem Bloco e PCP, até a direita fosse capaz de se rever nas políticas do PS. Esta é a ideia que levará o PS a uma maioria absoluta nas próximas legislativas se não houver mais ‘Pedrógãos’ no resto da legislatura e se Marcelo voltar a dar a mão a Costa.
Mas importa relembrar o que é o PS. Importa também ver o que este PS tem feito com o bom quadro económico que herdou não só do governo anterior, mas também de uma Europa que voltou a crescer e de um BCE generoso que mantém as taxas de juro próximas de zero e o mercado inundado de liquidez, beneficiando os países que mais dificuldade têm em colocar dívida barata nos mercados.
Este PS quis a descida do IRS. Todos queremos. Mas, para afastar o fantasma de mais intervenções do género ‘troika’, todos ficaríamos mais descansados se esta descida fosse compensada com cortes na despesa. Ou seja, à poupança com juros pagos (e aqui agradecemos ao BCE, não ao Governo) e à redução prevista de consumos intermédios, essa rubrica do OE que nunca ninguém sabe bem o que vale e que tudo acomoda para o Excel ficar composto.
Por outras palavras, o OE2018 não mexe em nada. Conta com os ventos favoráveis da Europa sem oferecer um catalisador para o calcanhar de Aquiles: o investimento. Aliás, é mesmo a rubrica do investimento que será usada para acomodar eventuais sobressaltos da economia internacional. Sejamos claros: prolongará aquela que Augusto Mateus considerou ser “uma crise séria de investimento público e privado”. Portugal, diz Mateus, vai produzir em 2018 riqueza ao mesmo nível de 2007.
Se do Bloco e do PCP esperamos o de sempre – a inconsciência de salários mínimos desproporcionados do fator competitividade e a voz dos pensionistas –, do PS, se fosse o partido de centro que diz ser, esperávamos uma palavra para o investimento. Um plano agressivo de redução de dívida. Uma visão para o país.
Esta lógica de reposição que se apoderou de Portugal é o que está errado. Esta rotatividade entre o Governo que tira e o que repõe sem critério. Exemplo disso é o descongelamento das carreiras. Mas porquê? Porque é que o Estado tem de se pautar por esta cultura anti-meritocracia? Porque é que a antiguidade é um posto no Estado quando não o é há décadas no setor privado? E não, isto não é um pensamento de direita. É um pensamento economicamente sustentável que defende o país de maus ventos na Europa. É também esse o papel de um partido responsável, do centro. E o PS ainda não é esse partido. E não é por causa da geringonça.