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Queda do BES foi há cinco anos: breve história do que levou à resolução inédita da ‘jóia’ da família Espírito Santo

No primeiro semestre de 2014, o BES apresentava prejuízos históricos no valor de 3,6 mil milhões de euros. O banco justificou as perdas com fatores de natureza execional que determinaram a contabilização de prejuízos, de imparidades e de contingências. O conselho de administração do BES acreditava que o reforço das provisões fortalecia o balanço e criava “condições para a recuperação económica do grupo”.
  • Rafael Marchante/Reuters
3 Agosto 2019, 10h00

Foi no dia 30 de julho de 2014 que o Banco Espírito Santo (BES) apresentou perdas históricas de 3.577,3 milhões de euros. Quatro dias depois, o Banco de Portugal decidiu aplicar uma medida de resolução, algo nunca antes visto.

No comunicado de apresentação de resultados do primeiro semestre de 2014, o BES justificava os prejuízos com “fatores de natureza execional ocorridos durante o (…) exercício [que] determinaram a contabilização de prejuízos, de imparidades e de contingências”. O custo com imparidades e contigências superou os 4,2 mil milhões de euros, mas o conselho de administração do banco, já liderado por Vítor Bento, dizia que o reforço das provisões fortalecia o balanço e criava “condições para a recuperação económica do grupo”.

O BES resolveu fazer provisões acima dos 1,2 mil milhões de euros para perdas com empresas do Grupo Espírito Santo, incluindo uma exposição direta à Espírito Santo Financial Group, a holding, no valor de 82o milhões e uma exposição à Rioforte de mais de 140 milhões.

A estas somaram-se uma exposição à Espírito Santo International (ESI) no valor de 856 milhões de euros e outra à Portugal Telecom, no valor de 106 milhões, por causa da desvalorização dos títulos em bolsa.

A resolução do BES pôs fim à esperança de salvar o BES.

Em maio, o BES concluiu com êxito um aumento de capital de mais de mil milhões de euros. Além disso, por intermédio de Ricardo Salgado, a holding da família e dona do banco, conseguia um empréstimo obrigacionista de 365 milhões de dólares junto da petrolífera estatal venezuelana. Apesar das dificuldades financeiras que só viriam a ser conhecidas em julho, a Espírito Santo Financial Group assumia nas cartas-conforto estar em posição para pagar o empréstimo na maturidade, noticiou a “Agência Reuters”.

O mês de julho marcou início do fim. Nos tribunais do Luxemburgo, a ESI foi a primeira a solicitar o regime de gestão controlada. Com dívidas de 6,4 mil milhões de euros, faltava-lhe liquidez para assumir as obrigações de pagamento do papel comercial vendido nos balcões dos bancos do Grupo. Dias depois, por não conseguir liquidar dívidas, foi a vez da Espírito Santo Financial Group requerer o regime de gestão controlada também no Luxemburgo.

Foi neste contexto que, na noite de 3 de agosto de 2014, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, anunciou que “a generalidade da atividade e do património do Banco Espírito Santo, S.A., é transferida para um banco novo, denominado de Novo Banco, devidamente capitalizado e expurgado de ativos problemáticos”.

Nascia assim o Novo Banco e o ‘BES mau’ rumava à liquidação e que ainda não está concluído.

“Desta forma, e em consequência da decisão adotada, fica completa e inequivocamente afastada qualquer hipótese de haver perdas para os depositantes”, explicava o governador do banco central. “O capital do Novo Banco, como se chama, no montante de 4.9 mil milhões de euros, é totalmente detido pelo Fundo de Resolução”, disse.

“A solução adotada pelo Banco de Portugal teve como principais preocupações preservar a sustentabilidade do sistema financeiro e proteger o interesse dos depositantes. E eu acrescentaria, tratando-se de um banco com uma grande importância junto das pequenas e médias empresas, a assegurar a continuação do financiamento da economia”, frisou Carlos Costa. “A solução adotada é também a que melhor salvaguarda o interesse dos contribuintes e do erário público e que garante a máxima responsabilização dos acionistas da instituição”, adiantou.

 

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