As crianças não vão à escola há quase seis meses. Arrancadas à força da sua rotina, a maioria não vê os amigos desde março. Muitos miúdos só convivem com adultos desde essa altura e nem sequer conheceram pessoas novas. Já não há festas de aniversário, nem as deles nem as dos outros e, nalguns casos, a pandemia afastou-as demasiadamente de familiares próximos, importantes para o seu equilíbrio emocional.

Por nossa iniciativa, dos adultos, não há desporto, nem artes, nem catequese, nem convívio. Essas atividades não são meramente recreativas, pelo contrário. São fundamentais para a saúde, desenvolvimento, felicidade e equilíbrio das crianças. Empurrámo-los (ainda mais) para o telemóvel, para a televisão e para o isolamento. Olham em volta e sentem medo porque sentem o nosso medo.

É claro que a vida também deu uma grande volta para os adultos, mas qualquer sociedade tem a obrigação de apostar e defender as suas crianças. E, como noutros temas, prevalece um grande egoísmo geracional. Não estaremos a privilegiar a gestão dos nossos medos, o nosso conforto e segurança, relegando os interesses e necessidades dos mais novos para segundo plano?

Durante o início da pandemia, perante o desconhecido, foi inteligente promover o isolamento, “achatar a curva” e prepararmo-nos. Eram as armas que tínhamos. Passados seis meses, a sociedade precisa proteger o seu futuro. Precisamos arriscar mais e devolver às crianças o máximo que pudermos.

É muito irónico que os que têm menor probabilidade de sofrer com a doença sejam, por larga distância, os mais afetados no longo prazo.