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“Quem detém o poder também controla a narrativa histórica”

Desde a adolescência que a mente efervescente de Djam Neguin lhe mostrou o caminho a seguir. Da Cidade da Praia rumou a Braga, onde viveu entre os 9 e os 19 anos. Regressou a Cabo Verde e continuou a criar outras narrativas para a sua cabo-verdianidade, para a sua “pretitude e para um mundo distinto que precisa de ser construído, primeiro, no exercício da imaginação”. A sua vocação camaleónica e fusionista também passa pelo ensino. Leciona em diversas capitais mundiais e considera a educação e as artes dois pilares fundamentais para a construção de uma sociedade onde prevaleça o “progresso solidário e a justiça social”.
13 Setembro 2024, 20h30

O ativismo cultural faz sentido em todas as épocas, mas será ainda mais relevante naquela em que vivemos?
Penso que uma singularidade do nosso tempo tem sido uma ‘fractalização’ do próprio conceito de ativismo, visto que muitas vezes nos perdemos entre aquilo que é militância política, aquilo que é gosto ou palpite pessoal, lutas identitárias e outros marcadores de uma sociedade polifónica e interconectada. Em todas as épocas, o ativismo cultural – sobretudo através dos movimentos contra culturais – contribuiu para rasgar os cânones e apontar caminhos outros para a “partilha comum do sensível”, de modo a gerar outros fluxos de expressão, sobretudo de grupos minoritários e fora das representações hegemónicas e da cultura de massas. Em um mundo caracterizado por desafios globais, desigualdades profundas, e um ambiente mediático e digital em flecha, faz sentido pensar que o ativismo se constitui como ferramenta poderosa de resistir, transformar e reimaginar o futuro. Ao mobilizar as forças criativas da cultura, os ativistas podem não apenas desafiar o statu quo, mas também inspirar novas possibilidades para a humanidade.

Transpor a vida e obra de Amílcar Cabral para 2024 é levar o seu pensamento a mais pessoas, nomeadamente às gerações mais novas. Qual a mensagem do espetáculo que criaste, “Ami.lcar”?
“Ami.lcar” desenvolve-se nos âmbitos das comemorações mundiais do Centenário de Amílcar Cabral, que coincide com os 50 anos do 25 de Abril, e em 2025, o ano da libertação das colónias. Assim, constitui-se como uma oportunidade de reatualizar – sobretudo às novas gerações – o legado desta figura excecional de pensamento político arrojado e de impacto histórico na rutura definitiva com o Estado colonial português, e do impulso à preparação e à organização das lutas emancipadoras que conduziram à libertação dos Povos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. É o ensejo global adequado para rever o contributo de figuras, como Cabral, que pugnaram por uma sociedade assente no ideário de liberdade e da dignidade de toda a pessoa humana, em contexto de progresso solidário e justiça social, para cuja construção concorrem, de forma decisiva, a educação e as artes, por meio de modelo decolonial e emancipatório.

 

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