“A ânsia de poder, não é originada da força, mas da fraqueza” – Erich Froom, Filósofo
No meio futebolístico existe há muitos anos uma máxima: “São 11 contra 11, mas no final quem ganha é sempre a Alemanha”. Poder-se-ia dizer o mesmo em Portugal, no que diz respeito às diversas eleições – dê por onde der, independentemente do tipo de eleição, quem ganha sempre é a Abstenção.
Este é um problema grave que ataca e corrói os sistemas democráticos, caso não seja enfrentado de forma séria e de frente, por todos aqueles que fazem da política a sua profissão. Antes de tudo, e nas eleições do passado domingo, o vencedor (diria que já crónico) foi a Abstenção, embora com um pouco menos que no último sufrágio.
Interessa ver e saber por que razão cerca de quatro milhões de portugueses não votaram.
Em meu entendimento existem vários motivos: o desencanto com a pouca qualidade dos políticos que temos; o protesto por não verem as principais prioridades do país resolvidas; a noção de que os políticos agem todos da mesma forma, defendendo os seus interesses e nunca os dos cidadãos e a crença de que o seu voto nada irá mudar.
Os cidadãos que se abstêm estão cansados de não serem atendidos e de assistirem a más governações sucessivas, sem que os políticos deem um sinal (por mais pequeno que seja), que caminham no sentido de perceber os motivos destes abstencionistas e desenvolvam acções conducentes a inverter esta situação.
Tenho para mim, que se deve estar na política com um total espírito de missão. Não se deve estar na política de forma mercantilista, tentando defender um interesse pessoal, que passa sempre por se alcandorar aquilo a que o povo sabiamente chama de “tacho”. Assim, e tendo como pano de fundo as eleições do passado domingo, não é perceptível como é que os grandes derrotados da noite, diria copiosamente derrotados e enxovalhados no xadrez político, não tenham tido a hombridade de seguir o único caminho que deveriam percorrer – a demissão.
Um Bloco de Esquerda que passa de 19 deputados para 5, o PAN que passa de 4 para 1 deputado e o Partido Comunista que passa de 12 para 6 deputados, e, contudo, os seus líderes não tiveram uma atitude de elevação, dignidade e respeito por aqueles que neles votaram, e não se demitiram. O que esperam? Fazer ouvir-se no parlamento?
Bom, fazer-se ouvir conseguirão, porque no espaço que lhes está reservado não lhes será cortada a palavra. Mas não conseguirão ter uma intervenção de fundo e capaz de influenciar e alterar as políticas do PS, logo, nada contam.
Como disse Guerra Junqueiro, “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais como duas metades do mesmo zero)”, é que Costa com a maioria absoluta não os irá ouvir, muito menos dar atenção a qualquer proposta que ousem apresentar. Irão directamente para o caixote do lixo.
Relativamente ao PSD, estou em crer que como homem sensato, de boa-fé e com o espírito de missão muito bem definido, não deixará de tomar a decisão mais acertada, isto é, sair pelo seu próprio pé.
Em todo o caso, importa sublinhar que nem todos se ajustam à política, desde logo porque deturpam o ideal subjacente mais elementar e nobre – devem servir a política e não se servir da mesma.
É por tudo isto que a Abstenção sai sempre vencedora em qualquer sufrágio. Porque milhões de portugueses não acreditam nos políticos que temos. E com estas atitudes incompreensíveis de não demissão de quem foi perdedor em toda a linha, mais se adensa esta ideia de que não vale a pena ir votar.
O estar agarrado à cadeira do Parlamento, a qualquer custo, remete-nos para personagens que nada prestigiaram a política.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.