Estamos na porta de entrada da campanha para as eleições europeias. E enquanto em noutros Estados-membros se discutem estratégias e posições para condicionar o futuro europeu, em Portugal desviamo-nos do que é essencial e as condições para a polémica doméstica, esquecendo que nestas eleições determinamos, em parte, as decisões mais próximas de todos os cidadãos.

Queremos e devemos discutir, se vamos ter impostos europeus para financiar políticas e instituições, se vamos reforçar o orçamento com verbas próprias e sem pressões ou estratégias dissonantes e em função de mesquinhos interesses nacionais, se vamos contribuir para ter um Parlamento Europeu menos europeu que coloque em causa algo que serve para unir um continente e opor-se à influência e condicionamento de terceiros, blocos económicos que apenas estarão interessados no seu próprio desenvolvimento. Não queremos tal resultado.

Ninguém quer mais impostos. Mas podemos definir que as contribuições nacionais sejam fixas e obrigatórias, para que estados e as regiões menos desenvolvidos possam beneficiar da solidariedade global europeia.

O risco da decadência da Europa é real, por muito que não se sinta. As estratégias não se estabelecem a curto prazo e os últimos anos demonstraram que os Estados tendem a ficar cada vez mais individualistas. Cercada por afirmações bombásticas e panfletárias às quais é simples aderir, o crescimento da representação nacionalista pode empurrar o sentimento coletivo para um plano secundário de que apenas beneficiarão terceiros com uma agenda específica.

Importa não esquecer o espaço de progressão registado no pós-guerra e durante os últimos 70 anos, o fim das lutas em territórios contíguos, donde resultaram milhões de mortos que sobrecarregam a consciência e a história europeias. As guerras mais violentas e sangrentas foram aqui travadas. E o tempo não apaga os rastos de fome, miséria e destruição.

Fala-se de barriga cheia. De políticas sociais e de integração, de solidariedade e mobilidade. Da necessidade de inovar e potenciar o desenvolvimento da ciência para que dela tirem partido quer a indústria quer os cidadãos europeus. E isso suscita o debate. Mas importa de igual modo pensar na pressão militar a leste, na balança comercial negativa com a China ou como próximo adversário económico dos Estados Unidos.

O que está em causa é a opção por uma Europa forte e unida – sem perda das identidades nacionais – com o estabelecimento de uma direção coletiva, que fixe um espaço de afirmação contra outros gigantes. Um espaço de pessoas, culturas, transações comerciais, liberdades e história própria. Construída pelos seus protagonistas, com o pensamento nos seus cidadãos e crescendo para todos.

O próximo Parlamento Europeu vai ter uma configuração muito diferente das anteriores. Menos europeu e mais egoístico. O que, somado às tensões britânicas e de pendor nacionalista, vão trasladar, de novo, o centro da discussão política para os estados e o Conselho Europeu e não para o espaço parlamentar, perdendo-se assim a representação dos cidadãos e a definição de estratégias mais inclusivas.

As eleições europeias não podem ser uma avaliação de políticas nacionais, mas a afirmação de uma vontade europeia. Os resultados podem ditar um equívoco eleitoral global e dar o sinal de que a Europa unida ainda está longe. Urge construir um espaço comum cuja discussão se prolonga desde o início do século XX e que tem de se concretizar nas próximas décadas.