É com espanto e indignação com que ouço algumas medidas do Governo para aplicar as subvenções ao abrigo do fundo de recuperação e resiliência.

E quando ouço o nosso primeiro-ministro dizer que para não sobrecarregar a nossa dívida pública não vai, em princípio, utilizar os empréstimos ao nosso dispor pela Comissão Europeia, fico ainda mais incrédulo.

As aplicações dos mencionados subsídios em despesas com a saúde, a habitação social, a mobilidade dos transportes públicos e meios para combate aos incêndios são, se bem aplicadas, corretas.

Agora, anunciar com pompa e circunstância duas pontes de ligação a Espanha é de bradar aos céus. A ponte entre Sanlucar do Guadiana e Alcoutim e a ponte sobre o Rio Sever, em locais onde, por mera coincidência, o PS domina politicamente, é desperdiçar o nosso dinheiro.

Estas pontes são as novas rotundas! Conheço bem Alcoutim e a Serra de São Mamede e tirando a beleza dos locais em questão não há tráfego, nem haverá nos próximos 20 anos, que justifique esses investimentos. As estradas estão sempre desertas, há poucas pessoas e o turismo é ainda muito incipiente. E pensar que de Espanha virá esse tráfego é ignorar o que se passa no país vizinho. São terras igualmente despovoadas e não serão as novas pontes que vão atrair turistas espanhóis. Enfim, é um  desperdício.

Depois de anunciar a reposição dos rendimentos da função pública, o primeiro-ministro renuncia aos empréstimos para evitar o aumento da dívida pública. É um contrassenso! Era este o momento de financiar as empresas com esse dinheiro, o turismo que se encontra em agonia, as empresas que produzem bens transacionáveis, incluindo o setor agrícola, aumentando dessa forma a riqueza e por consequência os impostos sobre a mesma.

E o que faz o Governo? Na linha do poeta engenheiro, apostam-se as fichas todas no Estado. O Estado gastador, não criador de riqueza. Não questiono o efeito keynesiano da despesa pública, mas depois da pandemia económica urge refundir o setor empresarial privado.

Os 250 milhões de euros para dotação de capital do banco de fomento, com 9 a 11 administradores(?!), é escasso se pensarmos que transitam todos os encargos das instituições fusionadas e que irão consumir rapidamente essa dotação. E a alavancagem desse banco vai demorar tempo que não dispomos…

Terminar o lay-off simplificado para o setor do turismo quando se anuncia a segunda vaga de Covid-19 é, como diz a nova geração, ‘só estúpido’. E anunciar o incentivo da procura doméstica pelo setor turístico com deduções ao IVA é ignorar a realidade.

E porque não anunciar que a revolução digital da administração pública irá reduzir drasticamente o número e o peso da função pública no orçamento geral do Estado? Parece-me evidente que qualquer revolução digital numa organização acarreta despedimentos. Ainda sou do tempo da substituição das máquinas de escrever pelos computadores que tornou redundantes muitos postos de trabalho nas empresas (aposto que as datilógrafas ainda se passeiam nos corredores do Terreiro do Paço…).

Fiquei pasmado quando percebi o porquê da Comissão Europeia ter aceite financiar as nossas queridas rotundas. Foi com o fundamento, e não estou a brincar, de que os carros ao aproximarem-se das rotundas reduziam a velocidade e, portanto, reduziam as emissões de dióxido de carbono…

Assim como assim, queremos mais rotundas!