Despeço-me de 2018, tentando guardar dentro de mim o que de bom, não apenas a vida me deu, como, acima de tudo, o que conquistei. Durante anos, encarei a mudança de ano como a hipótese de um recomeço para algo (sempre) melhor.

Este ano pedi, apenas, que mantivesse a capacidade de me rir, mesmo perante a adversidade. Se a idade nos baixa as expectativas e faz retornar ao essencial, o riso salva-nos sempre, mesmo quando o mar parece mais alto que a terra, permitindo-nos manter a memória. E é, de facto, com um sorriso que encaro 2019. Volvidas as promessas iniciais – e quase sempre incumpridas nos dias subsequentes –, o que permanece é a essência das pessoas, as mais das vezes melhor revelada no que julgam ser as vitórias do que nas derrotas.

Ainda assim, ficam aqui os meus votos de Feliz 2019. Principalmente para os que mais deles vão precisar: os pobres de espírito que, cavalgando numa aparência de poder e desperdiçando o seu tempo a urdir intrigas de baixo calibre, não percebem que o fim do seu mandato está à vista. 2019 será, também, um ano de viragem e brindo a isso. Na Ordem dos Advogados e na vida. A vós, queridos inimigos, tendo a frase de Churchill a ecoar dentro de mim.

Entre nós, o ano inicia-se com o anúncio de várias greves. É certo que podemos sempre imaginar uma situação pior, em que um empossado Presidente faria um discurso a incentivar o uso de armas como forma de manter a segurança, mas não deixa de ser curioso que um Governo pretensamente de esquerda seja alvo de uma contestação tão grande e em simultâneo em vários sectores de actividade.

Ao contrário do que poderíamos ser levados a crer perante notícias plantadas em órgãos de comunicação e divulgadas acriticamente nas redes sociais, não foram os mais diversos trabalhadores que se associaram e planearam um qualquer ataque ao Governo.

Foi, pelo contrário, o Governo, apoiado em dois partidos que afirmam defendê-lo, que os traiu. Traiu quando lhes prometeu mais. Traiu quando tentou bloquear os sindicatos, usando os ditos parceiros na informal coligação. Traiu quando tentou virar a opinião pública contra eles, mentindo com um sorriso nos lábios.

Vi este filme com os estivadores, com os enfermeiros, com os professores, com os guardas prisionais, com os magistrados, espantando-me como é que, neste país, uma mentira dita algumas vezes se torna tão facilmente verdade.

Virar uns contra os outros é uma lição dada há muito e que sempre tem resultado, principalmente quando se finge que somos aliados dos que visamos abater. Às vezes, é mais fácil sabermos quem são os inimigos do que descobrir lealdade nos pretensos amigos. É, também, por isso que nunca acreditei que Costa pudesse, verdadeiramente, defender os trabalhadores. E o facto de dizer isto, algumas das vezes com um sorriso, não retira a gravidade da situação. Apenas a torna mais séria.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.