Esta é a quinta de uma série de entrevistas integrada num trabalhado alargado desenvolvido pelo Jornal Económico sobre a sustentabilidade no sector dos vinhos do Porto e do Douro. Após as entrevistas em versão integral ao presidente do IVDP – Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, Gilberto Igrejas; a uma fonte oficial da Quinta da Aveleda; a Tiago Alves de Sousa, diretor de produção e enólogo da Quinta da Gaivosa, a Raquel Seabra, Chief of International Cluster and Sogrape Public Affairs, esta semana é a vez de Tomás Roquette, administrador, detalhar os projetos que a Quinta do Crasto lançou e tem em curso neste domínio.
Ao longo das próximas semanas, será possível acompanhar no ‘site’ do Jornal Económico outras entrevistas aos responsáveis de alguns dos maiores produtores da região e do País, como a Sogevinus, Quinta do Portal ou The Fladgate Partnership, além de testemunhos sobre o que cerca de outros 20 produtores da região estão a fazer ou a perspetivar no domínio da sustentabilidade.
Tomás Roquette considera que “o caminho da sustentabilidade ambiental é irrreversível”, revela que a Quinta do Crasto tem em curso a elaboração de um manual interno de sustentabilidade e detalha o que a empresa tem feito a esse nível na viticultura, na enologia e no enoturismo.
Que tipo de medidas de sustentabilidade ambiental têm implementado e quando e porque é que optaram por este caminho?
O caminho da sustentabilidade ambiental é irreversível. É obrigação de cada indivíduo contribuir para o equilíbrio no planeta. Equilíbrio ambiental e social. A Quinta do Crasto tem, ao longo dos últimos anos, apostado numa estratégia de desenvolvimento sustentável, nomeadamente na vinha e adegas, duas das áreas mais sensíveis no nosso ‘core business’. Na viticultura, temos optado por uma produção integrada, com a utilização de fertilização orgânica, uma rigorosa gestão da água, práticas de preservação dos solos ou a substituição de maquinaria para motores elétricos, entre muitas outras. O nosso olival é cultivado em regime biológico, sem qualquer aplicação de fitofármacos ou adubos de síntese.
Na enologia, temos vindo a implementar novas práticas de lavagem e higienização (ciclo interno de água), o uso de isolamentos térmicos, descargas da ETAR [Estação de tratamento de Águas Residuais] controladas pela ARH [Administração da Região Hidrográfica] e a escolha consciente de modelos de garrafas de vidro leve, juntamente com a utilização maioritária de rolhas de cortiça natural.
Também na área do enoturismo temos vindo a implementar medidas importantes, como a abolição do plástico na cozinha, o cultivo de uma horta biológica com os produtos utilizados nos menus de turismo ou a utilização de produtos de limpeza isentos de combustível fóssil. Transversalmente a toda a empresa, é feita a separação do lixo, a frota automóvel tem vindo a ser gradualmente substituída por veículos menos poluentes, com a existência de postos de carregamento eléctrico ou a implementação de ‘workflows’ digitais de documentos que permitem a redução de circulação ou impressão de papel. Comunicamos há bastantes anos a nossa consciência ambiental nos rótulos, com a inclusão de um ícone de uma aranha que simboliza a nossa preocupação pelo equilíbrio do património ecológico.
De que forma é que estas medidas de sustentabilidade ambiental se têm refletido na sustentabilidade económica da empresa e como é que essa vertente tem evoluído nos últimos anos?
Este caminho não é opcional, já que estas medidas visam sobretudo à preservação do Planeta, mas implicam também investimentos consideráveis, apesar de serem absolutamente vitais para manter o equilíbrio ambiental e social. Claro que a sustentabilidade só existe se for rentável. A nossa meta é produzir vinhos provenientes de uvas de elevada qualidade, de forma economicamente viável e em simultâneo, proteger o meio ambiente. A questão da sustentabilidade é cada vez mais valorizada pelo consumidor, que está cada vez mais informado e consciente das alterações climatéricas. Este é um caminho do qual não podemos sair. Acreditamos ser crucial as empresas adaptarem-se, rapidamente, a este ‘status quo’. Os recursos planetários não são inesgotáveis, e acredito que finalmente as corporações começam a tomar medidas necessárias para manter o tal equilíbrio de que falava anteriormente. As que não o fizerem, tornar-se-ão obsoletas aos olhos do consumidor e perderão competitividade e espaço no mercado.
Quais os novos projetos que têm em curso e em perspetiva para 2022 e anos seguintes?
Estamos internamente a elaborar um manual de sustentabilidade que nos vai permitir sistematizar melhor uma série de questões e trabalhá-las de forma mais estruturada. Há sempre margem para melhorarmos os nossos procedimentos. É esse estudo que está a ser realizado neste momento.
Como é que os vinhos resultantes destas medidas de sustentabilidade ambiental chegam ao consumidor de forma diferenciada em termos de percepção e de preço relativamente aos restantes?
Como mencionado anteriormente, o consumidor é cada vez mais atento e informado. A produção sustentável aumenta o valor acrescentado do produto, mesmo que implique um preço mais elevado. Entre dois produtos equiparados qualitativamente, mas em que um deles é produzido de forma sustentável, o consumidor dificilmente escolhe o produto não sustentável. As medidas reais têm que ser implementadas e comunicadas ao consumidor para que este possa fazer uma escolha consciente. E acreditamos que com a massificação de medidas de prevenção ambiental e social conseguiremos uma estabilização de preços.
Quais são os dados sobre a atividade da empresa?
A Quinta do Crasto faz hoje a gestão de cerca de 296 hectares de vinha. Produzimos 1.500.000 garrafas [por ano] e exportamos cerca de 60% da produção para 53 mercados. Estamos muito optimistas em relação ao ano de 2021 [fecho de contas]. Apesar de ainda estarmos a atravessar uma pandemia que acabou por enfraquecer brutalmente a economia, estamos com um crescimento em período homólogo [janeiro-agosto] na ordem dos 24% face a 2020, no qual obtivemos um resultado global de cerca 6,8 milhões de euros.
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