É ouvi-las dizer que sempre foram tratadas como pares (não sei se sempre disseram isto ou passaram a dizer para não parecerem umas histéricas dos direitos das mulheres), que nunca sentiram discriminação, que o caminho rumo ao topo é de mérito e não de género.
Não é. Os números estão aí. 59% das licenciaturas pertencem às mulheres. Menos de 10% das maiores empresas nacionais são lideradas por mulheres. Ganhamos, em média, menos 18% que os homens. Basta olharmos à volta, para os casos concretos das empresas em que trabalhámos ou trabalhamos. Podemos real e objetivamente falar em menos qualificações no feminino que justifiquem estes números? Não.
E, por isso mesmo, o Estado tem de dar o sinal e deu. Impondo quotas de mulheres nas empresas públicas, impondo uma quota também no Executivo que lidera o país. Tem de dizer que quando se trata de escolher gestores e líderes, enquanto não funcionar a auto-regulação, tem de haver mesmo discriminação positiva. Nunca gostei da ideia, porque o que estamos a dizer é que, em igualdade de circunstâncias de mérito (qualificações e experiência), escolhe-se a mulher. Numa espécie de vingança por, até agora, se escolher o homem. Mas rendo-me à evidência dos números. Somos mais na base, somos mais nas estruturas intermédias, ganhamos menos e não chegamos tão longe.
Outra coisa completamente diferente é impor quotas no sector privado. Porque, aplicando-se a mesma ideia de que a auto-regulação não funciona, há um valor mais alto que deve ser preservado: em minha casa, quem manda sou eu. Quotas para mulheres no sector privado é o fruto dos idealismos populistas de esquerda que ficam lindamente no papel mas que quase sempre têm a consequência de ferirem direitos adquiridos fundamentais. E um deles é que quem manda nas empresas privadas são os seus acionistas. E estamos muito longe de ter esgotado caminhos menos invasivos e que menos lesivos da liberdade das empresas. Exemplos? Porque não ponderar o critério da paridade nos Conselhos de Administração quando o Estado está a escolher parceiros no estabelecimento de Parcerias Público-Privadas e contratação pública? Porque não apoiar mais as empresas exportadoras que mostram um compromisso tangível com a paridade?
A iniciativa privada é regulada de variadíssimas formas pelo Estado, em diferentes dimensões. Penalizamos as empresas mais poluentes, apoiamos com subsídios – e bem – as famílias numerosas, emprestamos dinheiro barato às exportadoras. No fundo, o Estado funciona nestes casos como um farol que dá indicação do caminho que quer que a Sociedade como um todo tome. E é só assim que deve ser. Como em tudo, os fins não justificam os meios.