“Se queremos chegar a algum lugar juntos, devemos estar dispostos a dizer quem somos”. – Michelle Obama

Pior que toda a cisma e qualquer sismo natural, volta a eclodir e explodir a batalha do racismo – que é contranatural e, por vezes até, artificial. Somos pessoas com diferentes tonalidades e particularidades, mas tão iguais em dignidade, fragilidade, direitos – como o da tão impraticável fraternidade – e deveres, como o de não insultar nem o humilhar o próximo…

O coração humano é e deve ser similar em qualquer parte do mundo. E não é superior ou inferior, mediante o país de origem, a opção sexual, a etnia, o estatuto social, o credo ou a área laboral. Como refere um pensamento budista, ser boa pessoa não depende de nada disso. Mas, simplesmente, no modo cortês como lidamos uns com os outros.

Respiraremos melhor quando entendermos e aplicarmos seriamente aquilo que escreveu Mia Couto: “ninguém é uma raça. As raças são fardas que vestimos”. Para quê, aos olhos mundanos, haver raças e o fardo do racismo, criado pelos humanos? Se queremos ser exatos, sejamos: só há uma raça, a raça humana! Basta de ganância, ignorância e intolerância!

Respiraremos melhor quando a maldade humana, pior que o racismo, deixar de toldar mentes deformadas, escamadas de rude insipiência, e se apartar de destilar discursos de ódio, vingança e prepotência. Ah, essas vadias! Não queremos cá vãs supremacias, ásperas ou macias e suas pretensas manias…

Respiraremos melhor quando jamais se enviesar esta violência humana com outras, nas propensas manifestações com tensas vandalizações. Nada se resolve com confrontos gritantes nem com gritarias estonteantes. E que culpa tiveram as estátuas? Esses pedaços inanimados de ícones que deram vida ao mundo, mesmo na sua humana complexidade.

Foi destruindo símbolos históricos que se venceu o racismo?! Não, não foi! Foi mais uma moda oca e bacoca, cheia de tolice e tontice.

Respiraremos melhor quando a questão do racismo não for mais aproveitada nem misturada com a ditadura do relativismo, com a cabeça-dura do partidário-extremismo ou, ainda, com a fechadura mascarada do cinismo. A questão é delicada, mas não a deliquemos exageradamente com melodramas disfarçados de vitimizações e/ou complexos de inferioridade. Porque também os há! Vejamos: eu não sou racista. Ponto.

Todavia, o facto de eu poder não me rever numa ou noutra figura – conhecida ou não –, seja de tom epidérmico distinto do meu ou não e atendendo ao seu estilo e carácter, isso não pode significar ‘racismo’. Por que se faz deste facto problema e se lhe dá um nome que não é?

Em todas as etnias, independentemente da pele, há sempre alguém com quem, porventura, não simpatizemos tanto. E sem que o desacatemos! Quantas vezes já vimos e ouvimos pessoas de pele mais escura dizer isto ou aquilo de desagrado para com os de pele mais clara e não houve nem há alarmismos. Ora não sendo flagicioso nem pernicioso, não é racismo! Por que, ao contrário, tudo é racismo e precisa de duras urdiduras? Expiem-se e expirem-se estas tendências sem indulgências!

Respiraremos melhor quando nos abstivermos de empunhar ao alto que somos antirracistas, anti isto e anti aquilo, se depois não formos o verdadeiro “anti”: o antídoto coletivo. Este sim, o melhor remédio no ideal combate pacífico, feito de boas ações sem os holofotes da fama. Sem meras intenções nem mais violações ou quaisquer discriminações, próprio de quem ama!

Respiraremos melhor quando respondermos NADA à questão: que importa se este ou aquele é africano, hispânico, índio, asiático ou cigano? Nada! Porque amo e respeito a todos por igual, numa vontade que desejo global! Porque o racismo não nasce connosco. Surge ou não, e perdura ou não, se não educarmos o nosso sentimento – na relação com o outro – e o nosso pensamento – como vemos esse outro.

Por fim, respiraremos melhor quando desistirmos de nos diferenciarmos. Como diz Morgan Freeman, o racismo só se extinguirá quando deixarmos de falar nele e jamais nos tratarmos por ‘branco’, ‘preto’, ‘amarelo’, o que for… Perderá, assim, esse fausto poder de exposição e de conotação. E desaparecerá em toda a nossa ação, num qualquer coração. Sem distância nem distinção. Racismo: NÃO!