“É difícil libertar os tolos das armas que eles veneram”, Voltaire
Ano após ano, o Ministério da Educação e algumas instituições particulares anunciam, com toda a pompa e circunstância, a ditadura dos “Rankings das Escolas” do ensino secundário. Com esta publicação, o Ministério da Educação pretende assim “enviar” duas mensagens: uma para as Escolas (positiva para umas e negativa para outras) e também para os encarregados de educação, “mostrando-lhes” o caminho mais adequado para os seus educandos.
Sempre mantive uma atitude muito crítica relativamente aos rankings. Não só pela injustiça que os mesmos compaginam, mas também pela forma elitista e pouco inteligente que poderão configurar.
Não ainda há muito tempo, o Ministério da Educação proibiu que os professores deixassem alunos para trás, nos anos em que não existem exames nacionais, justificando que o não passar de ano poderia acarretar para o aluno problemas psicológicos e que, in extremis, poderia contribuir para o seu abandono escolar. Ora, isto é o que os sucessivos governos não querem, porque lhes interessa manter uma posição de relevância na OCDE relativamente ao não abandono escolar, o qual é conseguido estatisticamente à custa destes subterfúgios.
Com o tema dos rankings vem, precisamente, contradizer-se, quando diz que há escolas “boas” outras “sofríveis” e outras “poucos recomendáveis” – é isto que os rankings dizem!
Além de altamente contraproducente é altamente injusto, senão vejamos. Faz algum sentido comparar uma escola nas grandes cidades (Lisboa, Coimbra ou Porto) com aquelas que estão nas vilas do interior?
A massa crítica de alunos não é igual. Enquanto uns alunos têm pais ou encarregados de educação com formação superior, os ajudam nos seus estudos, vivem sem dificuldades e têm acesso a todas as novas tecnologias de forma permanente e ilimitada, quem vive nas aldeias e vilas do interior, muitas vezes tem encarregados de educação que possuem a escolaridade obrigatória, com alguma iliteracia, que possivelmente têm que ajudar a família no cultivo das terras, na pastorícia ou em alguma outra actividade dos pais, não lhe chegando sequer o tempo para estudar todos os dias, porque quando terminam estas tarefas, o corpo já pede cama.
Depois há a questão dos professores. Aqueles que exercem a sua profissão nas escolas melhor classificadas nos rankings são efectivamente bons? Tenho muitas dúvidas. Gostava de os ver leccionar em Escolas dos bairros da Cova da Moura, Pasteleira, Vila d’Este, Viso, Belavista, Jamaica e quejandos. Aí é que se veria se são realmente bons e se conseguiam que estas escolas aparecessem nos primeiros lugares do ranking, onde estão a nata – dos alunos e das condições que a escola proporciona.
Sou do tempo em que as escolas tinham um Quadro de Honra – onde estavam estampados os nomes dos 20 melhores alunos de cada escola. Em boa hora se acabou com esta prática, por se reconhecer que além de elitista, compaginava uma afronta para todos aqueles que pelos mais variados motivos não se conseguiam guindar a tão “prestigioso” quadro. Mas os tempos eram de ditadura, o que não é o caso actualmente.
Além de injustos, estes rankings só conseguem concorrer para a cultura da vaidade de muitos e aproveitamento de outros. Não fazem absolutamente qualquer tipo de sentido e só existe um caminho para eles – o seu extermínio, quer dizer, abandonar esta prática que tem tanto de incompreensível como de insensato.
Existem dois tipos de encarregados de educação – aqueles que são esclarecidos, que têm dinheiro e que sabem onde querem colocar os seus educandos (assiste-lhes todo o direito) e estes não necessitam de qualquer ranking. E depois há todos os outros, que colocarão os seus educandos na escola que ficar mais perto de casa, porque os meios não darão para mais, rezando ao santinho mais alto do seu escapulário para que o seu educando consiga aproveitar e ter uma vida melhor que a sua.
Por tudo isto, penso que os rankings estão condenados e não terão qualquer futuro, pelo menos o da credibilidade.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.