Não foi a primeira vez que uma raposa pisou o Parlamento britânico, pois já Charles James Fox, deputado conhecido como “The Honorable from 1762”, o tinha feito durante 38 anos. Mas a 7 de fevereiro uma raposa (autêntica) passeou por Westminster e, como muitos políticos deste Mundo, foi perseguida. A caça à raposa não se processou segundo os trâmites do hunting clássico – não houve cães, clarins ou gritos de tally-ho. Mas a raposa, depois de ter andado fugida por vários pisos de Portcullis House, foi finalmente capturada e devolvida à natureza em Whitehall. As motivações do animal foram políticas, pois defecou à porta do gabinete de Kerry McCarthy, deputado trabalhista e ministro sombra do Ambiente, especula-se que para tornar claro o que pensa da estratégia de Corbyn nas últimas eleições. Para citar a MP Julia Lopez, “tem-se visto muita coisa estranha no Parlamento desde 2017, mas esta ultrapassada tudo.”
Animais no Parlamento britânico não é coisa impensável. Em janeiro de 2018 um pardal esvoaçou na Câmara dos Comuns durante as perguntas ao primeiro-ministro, o que levou Ian Blackford (SNP) a perguntar a Lidington se estava a enviar a Theresa May uma “round-robin letter”. Até Banksy pintou a Câmara em 2009 cheia de chimpanzés como deputados, o “Devolved Parliament”, que se tornou o seu quadro mais valioso, ao ser vendido em 2019 por 11 milhões de euros. E há cerca de um ano o The Times e o Sunday Times lançaram uma campanha para chamar a atenção para o ‘ruído’ à volta do Brexit, de mote “keeping readers well-informed” que incluía o vídeo “Politics. Tamed”, com o Parlamento repleto de animais. Nele vê-se os Comuns com hienas nos bancos de trás, macacos espalhados pela sala, abutres e cobras diversas, uns quantos ratos a abandonar o navio, carneirada vária, avestruzes a esconder a cabeça, camaleões (não podia deixar de ser!) e um papagaio ao microfone, quando entram para pôr ordem na casa um leão e um unicórnio.
Isto não é só no Reino Unido. Podem entrar no parlamento francês cães-guias e, desde recentemente, cães-guias em treino. No Parlamento Europeu, em Bruxelas, entrou em setembro o primeiro animal de quatro patas, o cavalo anão guia de Monique Van den Abbeel, cega. Na Austrália já entraram um coala e um mocho gigantes, que não contam por serem de peluche.
Voltando a Inglaterra, acho extraordinária a riqueza de substantivos coletivos para designar grupos de animais. São particularmente notáveis: para elefantes, uma parada; para furões, um business; para lémures, uma conspiração; para macacos, uma trupe; para águias, uma convocatória; para calhandras, uma exaltação; para abibes, uma deceção; para papagaios, um pandemónio; para tarambolas, uma congregação; e para mochos, um parlamento. Quanto a este último, estou em dúvida: é um elogio aos parlamentos ou um insulto aos mochos?