Ele veio para ficar, pelo menos por longos e dolorosos meses. Muitas interrogações e poucas respostas definitivas: como se transmite, quão contagioso é, qual a letalidade real, quantos ventiladores existem em Portugal, e qual a capacidade de resposta dos cuidados intensivos (contando com o SNS, mas também com os cuidados de saúde prestados nas esferas social e privada).
Se, nos primeiros dias de Março, é incontroverso que poderia Portugal ter actuado de forma mais decisiva, é igualmente um facto indiscutível que depois do encerramento das escolas demonstrámos liderança política, obediência social, empenho e profissionalismo na preparação para a pandemia, e para os seus efeitos sanitários e económicos.
Agora, porém, vamos entrar na fase mais complexa, que passa por assegurar a reabertura da economia, levantando restrições e calibrando a supressão do vírus com as consequências económico-sociais do confinamento.
As respostas políticas têm sido no sentido certo. Mas a falta de músculo financeiro da República fará com que apenas ocorra uma compensação parcial dos efeitos económicos nefastos da pandemia. Isto dito, importa frisar que foi evitada uma crise bancária, o que não é, evidentemente, um dado irrelevante.
Estes dias finais de estado de emergência serão decisivos para identificar forças e fraquezas no dispositivo sanitário de identificação, isolamento, tratamento e internamento, e para reforçar a capacidade de resposta, recorrendo a todos os recursos disponíveis.
Dito isto, no mês de Maio teremos um grande desafio a várias dimensões. Por um lado, teremos de manter o isolamento e o dever de recolhimento e de protecção dos mais idosos e mais frágeis de saúde. Por outro, para a restante população, as restrições ao trabalho deverão ser levantadas, mas continuando em vigor a opção pelo teletrabalho, sempre que possível.
Quanto às empresas, a maior parte dos sectores podem e devem operar, sempre que respeitem as normas de distanciamento social, de teletrabalho e os protocolos sanitários. Contudo, ainda assim, algumas restrições à mobilidade regional e nacional deverão ter de continuar. Restam, porém, muitas dúvidas sobre a razoabilidade da eventual reabertura do sector dos ‘eventos’.
Nesta fase, como tem sido evidente, urge dar especial atenção aos temas da desinfeção dos ambientes hospitalares e dos lares, locais que têm sido importantes focos de contágio, bem como do alojamento dos trabalhadores imigrantes, não raro congestionados, eles que são vitais no cuidado de idosos e nas tarefas de natureza agrícola.
No meio da devastação sanitária e económica, gostaria de terminar este artigo realçando as inúmeras iniciativas de mitigação destes efeitos, por parte de grupos voluntários de cidadãos, IPSS, misericórdias e fundações. Não nos esqueçamos deles, quando consignarmos o nosso IRS ou IVA. Para estas instituições, todos os cêntimos são preciosos. Reabertura e solidariedade. Cara e coroa. Seremos capazes?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.