Em Portugal, “esquerda” e “direita” não são tratadas de igual forma. Inequivocamente, o espaço público, da maioria dos órgãos de comunicação social até à militância nas redes sociais, é mais compreensivo com tudo o que se passe, ou seja dito, à “esquerda”.

Ao invés, existe sempre um registo mais crítico em relação à “direita” ou às suas posições. Isso é válido tanto para o debate nas questões centrais da governação, como a Saúde, a Escola, a Justiça, a Segurança Social, a Economia – em que a defesa dos interesses privados, como contraponto ao designado ‘papel do Estado’, é sempre diabolizada, como para a visão em tudo o que é política global e, até, para a apreciação qualitativa de simples episódios do dia a dia, nacional ou estrangeiro. O tempo atribuído, o espaço dedicado e mesmo o registo crítico dos intervenientes chamados a dar opinião são normalmente diferentes.

Lembro, apenas, situações recentes.

Catarina Martins e Mariana Mortágua, numa marcha evocativa do 25 de Abril organizada pelo Bloco de Esquerda, foram filmadas a pedirem a Santo António (coisa interessante numa coligação de partidos alheios à Fé) que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, se juntasse a Salazar. Provavelmente, seria no Inferno, visto que seria excêntrico por demais ver o BE a reconhecer a existência do Paraíso, pelo menos o da Cristandade. O caso mereceu, apenas, umas notas de rodapé. Mas imagine-se o CDS/PP ou o PSD, por exemplo, a pedirem a morte física (foi disso que se tratou) de um qualquer líder político do mundo livremente eleito pelos cidadãos desse país… O escândalo que seria!

Outro caso é o da atual situação na Venezuela. O apoio dos Estados Unidos (com a CIA quase sempre associada) a Juan Guaidó está sempre presente nas notícias. Mas o apoio da Rússia ao presidente Nicolás Maduro, em que obviamente também estará implícita a dimensão dos chamados serviços de inteligência, parece não ser relevante. Porquê? Porque o Chavismo é uma revolução do Povo, e o Povo, mesmo que passe fome, emigre aos milhões e veja alguns dos seus serem assassinados ou desaparecerem, como na Cuba do simpático Fidel e do mítico Guevara, adora os seus. Pelo menos, haverá que respeitar a constitucionalidade, o que já não será bem assim na Catalunha, aqui ao lado. Adiante, porque o rol é interminável.

Ah, e depois há o Vox, essa erupção extremista da direita espanhola. Mas o Podemos foi, e é, um caso bom e Pablo Iglesias, em retrocesso eleitoral, um líder esperançoso.

E, para voltar a casa, imaginemos que, no consulado de Passos Coelho, para não irmos mais longe, um qualquer sindicato que se tivesse oposto ao governo, como aconteceu recentemente com o dos enfermeiros em relação ao executivo de António Costa, fosse, obviamente por mera casualidade, objeto de uma investigação da… ASAE! Que leitura teria essa situação?

Se se reparar, o registo noticioso em relação a todas estas situações, e poderia citar outras, reflete uma tendência que vai muito para além da caracterização sociológica expressa nos resultados eleitorais, nos quais, descontando os votos no bloco central, moderado, do PS e PSD, a esquerda (PCP e BE) duplica a direita (CDS/PP).

Esta realidade existe e eu não a evoco para sugerir que estamos em presença de uma qualquer conspiração, em que não acredito. Apenas sei que a maioria dos órgãos de comunicação social possuem redações constituídas por pessoas ideologicamente à esquerda – e que apenas um, o “Observador”, assume, na opinião que não nas notícias, politicamente a defesa de uma sociedade conservadora, de direita. É assim. E convém ter consciência desta realidade para melhor navegarmos nela diariamente.