Tal como Alfred Hitchcock ficou para a história da sétima arte como o “mestre do suspense”, dando início a uma tradição de cineastas que mais recentemente encontrou o seu expoente nos plot twists dos filmes de M. Night Shyamalan, os portugueses habituaram-se nos últimos anos a assistir às criações do mestre da ausência de suspense chamadas Orçamento do Estado.

Em jeito de trailer da estreia marcada para segunda-feira, o debate parlamentar com o primeiro-ministro mostrou António Costa igual a si próprio. Da mesma forma que hostilizou de forma mais sanguínea ou mais irónica as bancadas à sua direita – fez questão de pedir a Cecília Meireles que cumprimentasse o presidente do CDS-PP por ser o único partido que não perdeu nenhuma câmara e “ainda contribuiu muito generosamente para que o PSD vencesse mais 40” –, voltou a mostrar que antes de as luzes se voltarem a acender os partidos da antiga ‘geringonça’ e o PAN garantirão mais uma vitória a quem ameaça ultrapassar o recorde de longevidade democrática de Cavaco Silva, mesmo que nunca venha a ter maioria absoluta na Assembleia da República.

Gestor de excelência das expectativas partidárias alheias, tirando sempre doce fruto das muitas possibilidades de alcançar o número de deputados estritamente necessário para a aprovação do Orçamento do Estado, o primeiro-ministro vira-se agora para o Bloco de Esquerda após nova sangria autárquica do PCP.

Todos sabem como acabará este filme. E assim seria mesmo que alguém notasse que Bruce Willis está morto desde a cena inicial.