[weglot_switcher]

Recessão recorde: Bruxelas prevê contração de 7,75% na economia da zona euro em 2020

Nas projeções económicas da primavera, a Comissão Europeia adiantou que prevê uma retoma para 2021, com a zona euro a crescer 6,25% e a UE a recuperar 6%.
6 Maio 2020, 10h00

A pandemia da Covid-19 representa um “choque significativo” e vai provocar “uma recessão de proporções históricas”, afirmou a Comissão Europeia (CE) esta quarta-feira, adiantando que projecta uma contração recorde de 7,75% na zona euro e de 7,5% na União Europeia este ano.

Nas projeções económicas da primavera, a CE adiantou que prevê uma retoma para 2021, com a zona euro a crescer 6,25% e a UE a recuperar 6%.

“A pandemia de coronavírus representa um profundo choque para a economia mundial e europeia, com consequências socioeconómicas muito graves”, referiu a CE. “Não obstante a rápida adoção de uma resposta estratégica global, tanto a nível nacional como europeu, a economia da UE registará este ano uma recessão que assumirá proporções históricas”.

Recordou que trata-se de um choque que afetou a economia da UE de forma simétrica, na medida em que a pandemia afetou todos os Estados-Membros, mas quer a queda da produção em 2020 (que oscilou entre -4,¼ % na Polónia e -9,¾ % na Grécia) quer a dinâmica da retoma em 2021 deverão divergir acentuadamente.

A recuperação económica de cada Estado-Membro dependerá não só da evolução da pandemia no país como também da estrutura da sua economia, bem como da sua capacidade de resposta por intermédio de políticas de estabilização, explicou. Dada a interdependência das economias da UE, a dinâmica da recuperação em cada Estado-Membro afetará também a solidez da retoma dos demais Estados-Membros.

Segundo Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo e comissário responsável pela pasta ‘Uma Economia ao serviço das Pessoas’, na fase atual, só é possível identificar, a título indicativo, a dimensão e a gravidade do choque que a crise do coronavírus irá representar para as nossas economias.

“Apesar de as repercussões imediatas serem indubitavelmente muito mais graves para a economia mundial do que a anterior crise financeira, a gravidade do impacto dependerá da evolução da pandemia, da nossa capacidade para retomar a atividade económica de forma segura e da recuperação subsequente”, explicou.

Para Paolo Gentiloni, comissário europeu responsável pela Economia, a Europa está a atravessar um choque económico sem precedentes desde a Grande Depressão. “Tanto a gravidade da recessão como a dinâmica da recuperação serão desiguais, uma vez que dependerão da celeridade com que as medidas de confinamento possam vir a ser suprimidas, da importância de setores como o turismo na economia de cada país e dos recursos financeiros à sua disposição”.

Inflação desacelera

A CE prevê uma diminuição significativa dos preços no consumidor este ano, devido à quebra da procura e à queda acentuada dos preços do petróleo que, em conjunto, deverão mais do que compensar quaisquer aumentos isolados dos preços decorrentes de perturbações na cadeia de abastecimento relacionadas com a pandemia.

Atualmente, projeta-se que a inflação na área do euro, medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), atinja 0,2 % em 2020 e 1,1 % em 2021. No que respeita à UE, a inflação deverá atingir 0,6 % em 2020 e 1,3 % em 2021.

A CE recordou que os Estados-Membros reagiram “de forma decisiva, tendo adotado medidas orçamentais para limitar os prejuízos económicos causados pela pandemia” e que os denominados ‘estabilizadores automáticos’, como o pagamento de prestações da segurança social, em conjugação com as medidas orçamentais discricionárias, deverão resultar no aumento das despesas.

Em consequência, prevê-se um aumento do défice público agregado da área do euro e da UE, que deverá passar de apenas 0,6 % do PIB em 2019 para cerca de 8,5% em 2020, antes de diminuir para aproximadamente 3,5% em 2021.

Após uma trajetória decrescente desde 2014, o rácio dívida pública/PIB deverá igualmente aumentar. Na área do euro, prevê-se que este rácio aumente de 86 % em 2019 para 102,¾ % em 2020, devendo em seguida diminuir para 98,¾ % em 2021. Na UE, prevê-se que aumente de 79,4 % em 2019 para cerca de 95 % em 2020, devendo em seguida diminuir para 92% em 2021.

Bruxelas alertou ainda que as previsões da primavera estão sujeitas a um maior grau de incerteza do que acontece habitualmente e assentam num conjunto de premissas quanto à evolução da pandemia de coronavírus e às medidas de confinamento associadas. O cenário de base projetado pressupõe que as medidas de confinamento sejam progressivamente eliminadas a partir de maio, explicou, adiantando que os riscos inerentes a estas previsões são também excecionalmente elevados e tendem para a revisão em baixa.

“Uma pandemia mais grave e duradoura do que aquilo que é atualmente projetado poderá vir a provocar uma descida do PIB muito mais acentuada do que se previa no cenário de base em que assentam as previsões”, sublinhou “Na falta de uma estratégia de recuperação comum, firme e atempada a nível da UE prevalece o risco de a crise poder conduzir a graves distorções no mercado único e a profundas divergências económicas, financeiras e sociais entre os Estados-Membros da área do euro”.

“Existe também o risco de a pandemia poder desencadear mudanças comportamentais mais drásticas e permanentes no que respeita às cadeias de valor mundiais e à cooperação internacional, o que afetaria a economia europeia extremamente aberta e interligada”, frisou, alertando que a pandemia poderá igualmente causar danos irreversíveis, devido às falências e a problemas duradouros nos mercados de trabalho.

O risco de imposição de direitos aduaneiros após o termo do período de transição entre a UE e o Reino Unido poderá igualmente travar o crescimento, embora mais no Reino Unido do que na UE.

[Atualizada às 10h24]

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.