Os indicadores avançados mais recentes estão a apontar para uma desaceleração económica a nível global, incluindo na zona euro. Será que é desta que a recessão chega a Portugal?
Desde meados do ano passado que se teme uma recessão global. O contexto de guerra, inflação e subida agressiva das taxas de juro tem gerado muitas previsões de recessão para 2023. Efetivamente, em algumas zonas do globo já se verifica uma situação de recessão técnica marginal, nomeadamente na Alemanha e na zona euro. Em outras, as economias estão a desacelerar fortemente depois de um 2022 pós-pandémico de crescimento forte ou, como é o caso da China, a recuperação está francamente a desiludir.
No entanto, importa dizer que o desemprego não está a aumentar, pelo contrário. É verdade que o desemprego é uma variável desfasada do ciclo económico, mas já seriam de esperar sinais mais preocupantes e isso pode ter a ver com as particularidades do ciclo atual.
Este ciclo económico está a caracterizar-se por uma preferência por serviços, o que até se compreende porque, durante a pandemia, o consumo foi muito direcionado para os bens. E têm sido precisamente os serviços a puxarem pelo crescimento. Países mais industriais, como a Alemanha, são mais afetados e aqueles em que os serviços têm acelerado mais, nomeadamente o turismo, como Portugal, Espanha ou Grécia, beneficiam deste contexto.
Em junho, o PMI Compósito da zona euro caiu para 50,3, abaixo dos 52,8 do mês anterior. A leitura preliminar aponta para uma desaceleração acentuada na expansão económica devido a uma combinação de um crescimento mais lento na atividade dos serviços e a um aprofundamento da contração da indústria. O PMI do setor dos serviços caiu para os 52,4 pontos em junho. Não obstante, a leitura aponta para o sexto mês consecutivo de crescimento no setor, ainda que ao ritmo mais baixo dos últimos cinco meses.
Em Portugal, o turismo provavelmente irá continuar a “salvar” a economia nacional. Já há muitos indicadores coincidentes preocupantes na indústria, mas no turismo batem-se recordes. Por isso, e dado que Portugal está num “sweet spot” em termos de preço, diversidade e qualidade, mesmo a queda de rendimento disponível das famílias europeias não deverá prejudicar o turismo e, assim a economia nacional deverá escapar da recessão.
Vale a pena ainda mencionar os riscos recessivos com origem na atuação dos bancos centrais que, provavelmente, já estão a subir os juros mais do que o necessário, tendo em conta que a inflação já se está a dissipar e não fundamentalmente por fenómenos monetários. As taxas de juro mais altas e a retirada de liquidez do sistema irão pressionar ainda mais os agentes económicos, arriscando que o paciente morra da cura.
Ainda assim, provavelmente ainda não será desta que Portugal entrará em recessão.