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Recuperação económica será diferenciada, dependendo do país – João Duque

O professor do ISEG – Lisbon School of Economics and Management participou na na conferência “Guia de Fundos: a Vitória do Otimismo”, juntamente com Christophe Mallet, diretor de Desenvolvimento Internacional da OFI Asset Management; Pedro Coelho, vice-presidente do fundo de investimento imobiliário Square Asset Management.
  • Cristina Bernardo
26 Julho 2021, 19h20

A vacinação em massa da população europeia está a permitir o desconfinamento gradual na sociedade, mas a recuperação económica será diferenciada de economia para economia, afirmou João Duque, professor do ISEG – Lisbon School of Economics and Management, na conferência “Guia de Fundos: a Vitória do Otimismo”.

A conferência, transmitida pela plataforma multimédia JE TV, a 26 de julho, foi promovida pelo Jornal Económico, com o apoio da OFI Asset Management, e contou com a presença, além de João Duque, de Christophe Mallet, diretor de Desenvolvimento Internacional da OFI Asset Management; Pedro Coelho, vice-presidente do fundo de investimento imobiliário Square Asset Management.

Este é um período de volatilidade nos mercados financeiros, exuberância mesmo, taxas de juro negativas, uma política monetária do Banco Central Europeu que é acomodatícia e um período ainda dominado pela pandemia e necessidade de desconfinamento prometida pela vacinação em massa da população europeia.

Perceber este tipo de crise é o primeiro desafio para João Duque.  “[Esta crise] tinha todos os condimentos para ser uma crise que estava claramente identificada à partida. Como uma crise que teria uma queda muito acentuada e com uma recuperação mais ou menos assimétrica”, disse, frisando ter alguma expetativa positiva, mas antecipando uma assimetria na recuperação.

“[A recuperação] era um quadro que estava muito dependente daquilo que fosse a resposta sanitária à crise. E, em boa verdade, o receio inicial do confinamento mantém-se: continuamos com muitas indecisões e dúvidas sobre aquilo que estruturalmente pode modificar a nossa liberdade e isso cria grande indecisão nas pessoas”.

“Se alguém estivesse fora a olhar para o mesmo planeta diria que estes indivíduos, com o mesmo problema, têm soluções completamente diferentes. Isto quer dizer que eles não sabem bem como tratar isto”, disse o professor do ISEG. “Ainda sou um bocadinho otimista naquilo que espero que venha a ter sucesso e que é a vacina e o programa de vacinação em massa na maior parte dos países”, acrescentou.

Duque realçou, também, que há um outro problema e que vem detrás e que estava a ser apoiado por um grande programa de política monetária europeia. Um programa agressivo com compras massivas de dívida emitida por Estados soberanos para fazer face a uma necessidade de crescimento das economias. Esta política monetária estimula economicamente a recuperação, via emissão de dívida pública e não só, também privada.

Enquanto este tipo de política se mantiver, “enquanto não houver sinais alarmantes de alteração da política, com o enquadramento atual, há muita probabilidade de se continuar a assistir àquilo que temos vindo a ver: recuperação económica mais ou menos diferenciada de país para país e com bolsas de mercados a bombarem e a terem grande exuberância”, disse. E apontou que as taxas de juro de longo prazo na Europa voltaram a descer, quando estiveram a subir desde o início do ano. “E isto acontece porque há ainda uma expetativa de que afinal o BCE vai continuar esta política e só isto vai garantindo que as taxas de juro sejam negativas e tão baixas”.

Investimento responsável 

O gestor da OFI AM, Christophe Mallet, realçou que, a nível internacional, a crise que vivemos teve repercussões na sociedade e nas empresas, “mas sobretudo sensibilizou-nos para questões que já estavam a ser trabalhadas, caso da sustentabilidade e consumo. E, neste contexto, o tema do investimento socialmente responsável tornou-se fundamental. Esta crise pandémica tem também um lado positivo porque houve ações sobre a saúde, e desenvolveram-se modelos económicos relevantes. Também houve impacto sobre a noção de responsabilidade corporativa e social que ganhou destaque”.

E adianta que “a crise também levantou questões como o capital entre os acionistas e outras partes interessadas como os colaboradores e os fornecedores”. Concluiu afirmando que as principais tendências identificadas a nível de gestão passam pela “tecnologia, que irá estruturar mais a nossa vida de forma online. Isso ficou claro durante os vários confinamentos que sofremos. Não poderemos mais viver sem essa tecnologia e podemos ver isso nos preços das ações das grandes empresas de tecnologia ou nas empresas mais pequenas que operam no setor das teleconferências, por exemplo”.

“O teletrabalho provou ser útil e com um impacto ecológico positivo. As compras online encontraram novos consumidores. E os cuidados de saúde online que chegaram ao domínio público”, afirmou. Por último, acrescentou que “a intervenção do Estado está de volta, juntamente com a questão da dívida”.

Do lado do imobiliário, Pedro Coelho, gestor da Square, realça que esta classe de ativos “é algo muito mais estável do que os mercados financeiros. E face à conjuntura económica que vivemos hoje, caso das taxas de juro inexistentes ou negativas, o imobiliário tem vindo a ser uma classe de ativos cada vez mais importante na alocação de carteiras de investidores institucionais, nomeadamente fundo de pensões e investidores de longo prazo. Passou-se a falar mais de imobiliário, nomeadamente imobiliário comercial por causa disso. Esta pandemia vem também introduzir uma nova realidade de setor a setor, com reações completamente diferentes por causa do que aconteceu. Se se fala do turismo – que foi uma indústria que praticamente desapareceu –, o imobiliário relacionado com o turismo vemos que sofre mais que outros setores pois não pode ser utilizado”.

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