Após o período de confinamento físico que o país viveu no último mês e meio, a economia dá-nos agora os sinais do estado em que se encontra e mostra-nos as sequelas que sofreu. Famílias e empresas tentam agora respirar profundamente e avaliam as circunstâncias económicas, financeiras e sociais em que estão a viver. O quadro geral revela sinais preocupantes e no horizonte surgem ainda muitas dúvidas quanto à melhor forma de enfrentar as dificuldades.

As evidências do estado de dificuldade em que vivem, o país no seu todo, e os agentes económicos (empresas e famílias) em particular, são-nos dadas pelos números: durante o período de confinamento físico que decorreu de 18 de março a 3 de maio, deram entrada na Segurança Social 80.560 pedidos de subsídio de desemprego e mais de 100 mil empresas já pediram para aderir ao regime de lay-off simplificado.

Atualmente, ainda que estes números estejam em constante mudança, encontram-se em regime de lay-off cerca de 800 mil trabalhadores de empresas privadas. A falta de liquidez para cumprir com os compromissos relativos a pagamento de salários, rendas, impostos e fornecedores, estrangulam a tesouraria das empresas já que a maioria das micro e pequenas empresas suspenderam a sua atividade e colocaram em dificuldades, não por culpa própria, centenas de milhares dos seus empregados que têm que sobreviver com dois terços do seu salário.

Recordemos que cerca de 80% das cerca de 100 mil empresas que solicitaram a adesão ao regime de lay-off simplificado são micro empresas com menos de 10 trabalhadores. Deste universo, a Segurança Social terá já procedido ao pagamento a 65 mil empresas deste apoio à manutenção dos contratos de trabalho no âmbito desta medida extraordinária.

As linhas de crédito COVID 19 subscritas pelos bancos, com garantia mútua estatal, cuja cobertura varia entre os 80% a 90%, tardam muito em chegar às empresas, menos por culpa dos bancos e mais pelo processo burocrático exigido ao circuito decisório. Nos bancos, há no entanto espaço para melhorar os tempos de decisão e resposta às empresas, o que se exige seja feito com clareza e de forma atempada, uma vez que estes não são o único elo desta cadeia.

Porém, o problema agrava-se nas Sociedades de Garantia Mútua que não estavam preparadas administrativamente para dar resposta a um tão elevado volume de procura. Não está em causa a capacidade, dedicação e empenho dos recursos humanos mas sim a sua escassez para fazer face a um volume nunca antes visto de solicitações. Pelas informações recolhidas, nos últimos dois meses, o volume de solicitações mais do que duplicou face ao número de pedidos do ano anterior.

Perante tais dificuldades, importa que as empresas e os empresários mantenham bem definidas as prioridades, persistam na sua decisão de recorrer e contratar os apoios disponíveis, caso não tenham alternativas, e atuem com a necessária serenidade exigida nestes tempos difíceis. Há no entanto uma preocupação que devem ter em consideração: não recorram a crédito contraindo mais dívida se dela não necessitarem, apenas porque estas linhas estão disponíveis.

Não estamos perante financiamentos a fundo perdido e o que é contratado hoje terá que ser pago amanhã e com juros. Para além disto, caso necessitem de recorrer a estas linhas de apoio, é indispensável que as empresas mantenham também uma postura de exigência perante o Estado e os bancos.

Perante o Estado a quem pagam os seus impostos e que se comprometeu a apoiar o tecido empresarial e os trabalhadores, com o dinheiro, não esqueçamos, que é dos contribuintes. Perante os bancos porque, enquanto seus clientes, têm direitos, devendo exigir-lhes respostas rápidas, atempadas e adequadas à especificidade das suas necessidades. Mais importante que uma não resposta que pode deixar as empresas num momento de indecisão e novo estrangulamento é uma resposta inequívoca dos bancos, ainda que negativa.

Os empresários, em especial os das micro e pequenas empresas, não devem ter receio nem constrangimentos em dialogar com estas entidades de igual para igual, exigindo respostas às suas necessidades financeiras. Sabemos que este diálogo é muitas vezes difícil e desigual porque nem todos dominam a linguagem e a semântica financeira.

Para tal, peçam ajuda se necessário, recorram a quem os possa assessorar ou orientar neste domínio, sejam familiares, amigos, advogados, contabilistas, outros empresários com os quais mantenham boas relações e uma boa cooperação empresarial (podendo até negociar em conjunto) ou mesmo consultores económicos.

Sabemos também que, muitas vezes em situação de fragilidade, os empresários revelam grandes dificuldades em avaliar o seu negócio sem demasiada carga emocional, em afastar-se o suficiente do mesmo e escolher racionalmente as melhores soluções para os seus problemas.

É nestes momentos que deve vir ao de cima a necessária clarividência para tomar as melhores decisões que, nos tempos atuais, são aquelas que mais beneficiam o negócio no imediato pois os seus problemas são para já os de prazo muito curto. Se necessário for, não hesitem em recorrer a apoio neste sentido de forma a não deixarem perder oportunidades que dificilmente voltarão a surgir.

Neste campo, os empresários podem estar perante a necessidade de saber conduzir adequadamente negociações com a banca, com os seus clientes, colaboradores, Estado ou fornecedores. Nas circunstâncias atuais, é evidente que são eles hoje o elo mais fraco desta cadeia. Ainda assim, é indispensável enfrentar estas dificuldades, não falhar as negociações, aparecer, estar presente e dar a cara pelos seus intentos e necessidades.

Com a banca é determinante avaliar a necessidade de recorrer aos pedidos de moratórias, ao reescalonamento de reembolsos de empréstimos (se possível com a hipótese de reforço de garantias) solicitando diferentes períodos de carência, novos prazos mais alargados ou simplesmente a revisão das condições de taxa de juro. Será pertinente equacionar a possibilidade de negociar com todos os parceiros bancários uma taxa de juro única, ajustável à sua capacidade de reembolso, de modo a demonstrar de forma inequívoca que se conhecem as capacidades e limites financeiros e que se pretende dar cumprimento às suas responsabilidades em consonância com essas capacidades.

É também importante que os empresários percebam que esta crise é de todos, passa por todos e que não é possível deixar que os problemas das empresas transitem simplesmente para os bancos, ficando estes com a responsabilidade total da recuperação da economia. Não é assim nem pode ser assim pois os bancos têm que responder perante colaboradores, clientes e acionistas e manter sustentável o seu negócio.

No contexto do Estado e da Segurança Social é determinante, se houver dificuldades, apresentar propostas de regularização de dívidas acumuladas ou valores a pagamento em atraso, demonstrando uma evidente vontade de dar cumprimento a essas responsabilidades.

No âmbito do seu negócio, é determinante dialogar com os seus principais clientes no sentido de saber se existem da parte destes algumas restrições de pagamento no momento atual que possam pôr em perigo recebimentos sobre fornecimentos já efetuados ou de futuras entregas, de modo a ajustar a venda e a oferta da empresa.

De igual forma, é importante dialogar com os seus principais fornecedores, em especial se existirem da parte da empresa pagamentos em atraso ou pedidos de fornecimento importantes em curso, de modo a avaliar a disponibilidade de fornecimento daqueles, para não interromper o ciclo de exploração e produção da empresa. Neste campo será importante que as empresas procurem negociar algum alongamento dos prazos de pagamento ou a aceitação de pagamentos parciais aos seus principais fornecedores de modo a não bloquear a sua atividade. Uma postura honesta vale tudo e o tempo é agora a palavra-chave para a sobrevivência.