A pandemia de Covid-19 e a consequente crise económica foram o golpe final em 14 anos de gestão socialista na Câmara Municipal de Lisboa (CML) que deixaram a capital do país descaracterizada, com um insustentável nível de vida e deserta de habitantes.

Nem os últimos anos de apogeu económico, com a entrada diária de impostos derivados à explosão do turismo, ajudaram a um planeamento exigente e em prol da cidade. Uma gestão virada para o turismo, que permitiu uma explosão descontrolada de hotéis e Alojamentos Locais disparando o valor dos imóveis e rendas, obrigou os lisboetas a abandonar a cidade. A promessa de Fernando Medina de seis mil casas de renda acessível no seu mandato e 20 mil a longo prazo para jovens e famílias de classe média até 2021, no âmbito do programa Plano de Renda Acessível (PRA), falhou em toda a linha.

A grande bandeira de uma cidade verde com a implementação do projecto ZER – Zona de Emissões Reduzidas Avenida Baixa Chiado para reduzir em 40% os carros no centro da capital foi também um logro. Um investimento excessivo e muitas vezes sem sentido em ciclovias para agradar à extrema-esquerda e manter o poder na câmara, e não para os lisboetas, estrangulou artérias essenciais na capital e lançou o caos em várias zonas. Uma decisão absurda face à fraca aposta nos transportes públicos, que se tornaram incapazes de responder à procura durante o último ano de pandemia com veículos lotados num verdadeiro atentado à saúde pública.

No seguimento de uma série de más decisões, a CML apostou em inundar o rio Tejo de cruzeiros turísticos, competindo com Veneza e Barcelona, que libertaram 3,5 vezes mais óxido de enxofre, um gás que provoca problemas respiratórios, dores de cabeça e indisposição, que os 375 mil automóveis que circulavam diariamente na capital antes da epidemia, disparando a poluição atmosférica e degradando a qualidade do ar.

A obsessão por obras no solo da cidade marcou os anos de governação de Fernando Medina. Das ciclovias às obras na segunda circular, realizadas no pior calendário possível, passando pela calçada portuguesa, substituída por materiais inferiores no centro da cidade, acabando na decisão recente do desnivelamento da Linha de Cascais. Já as obras mais necessárias, os prometidos centros de saúde e escolas, e a aposta nos transportes públicos não passaram do papel.

Lisboa precisa de ser recuperada para os lisboetas – urge um projecto que não só contemple o que ficou por fazer na última década e meia, mas que apresente também um plano de recuperação perante o período devastador da epidemia e da crise económica actual, e que avance e concretize uma cidade com qualidade de vida, virada para as prioridades dos seus habitantes em termos de saúde, educação, transportes públicos e ambiente.

Nas próximas eleições autárquicas é o momento para recusar uma gestão desgovernada. É urgente recuperar Lisboa.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.