O futebol contemporâneo determina um calendário competitivo cada vez mais denso. Se há 30 anos atrás um jogador fazia 40 jogos por temporada, atualmente este número subiu para os 60. Este aumento de 50% de jogos, com durações de temporada semelhantes, tem uma influência determinante no tempo de recuperação dos atletas. Por exemplo, a presença do FC Porto nas quatro competições (Final Four da Taça da Liga, meias-finais da Taça de Portugal, Liga NOS e Liga dos Campeões) determina, no mínimo, 9 jogos de 12/janeiro a 12/fevereiro.
E neste período, 75% dos títulos poderão estar negativamente decididos. Este período termina com a deslocação a Itália para defrontar o AS Roma para a Liga dos Campeões, adversário este que no mesmo período tem menos um terço dos jogos. Feitas as contas, e se o FC Porto for finalista da Taça da Liga, terá uma densidade competitiva de 3.2 dias/jogo ao longo de um mês de trabalho.
A sobrecarga a que os jogadores são sujeitos num tão curto período de tempo impede-os de recuperarem na sua plenitude. No final de um jogo a capacidade de produzir força pode estar reduzida até cerca de 30%. Mais preocupante é o fato desta redução na capacidade de produção de força manter-se (ainda) cerca de 10% abaixo de valores de pré-jogo 3 dias após o mesmo. Adicionalmente, marcadores fisiológicos indicadores de dano muscular, em muitos casos, apenas normalizam 5 dias após o jogo.
Aliado a estes fatores, juntam-se alterações no equilíbrio energético e hídrico, fadiga mental e qualidade do sono. Por exemplo, na noite após jogo os jogadores tendem a ter padrões de sono alterados e de menor duração. Sabendo-se que a qualidade do sono é essencial para o processo de recuperação, estudos sobre esta temática sugerem que o risco de lesão é 1.7x superior em atletas que dormem em média menos de 8h. Esta realidade pode não só comprometer o desempenho individual do atleta (e consequentemente coletivo) como aumentar em 6x o risco de lesão.
A elevada densidade competitiva obriga à implementação não só de um conjunto de estratégias ao nível da monitorização da sobrecarga do jogador, como também de estratégias de recuperação. Para facilitar e acelerar este processo, existem intervenções de caráter passivo (ex., massagem e banhos gelados) e ativo (exercícios pouco intensos e sem impacto, como bicicleta). O papel da nutrição é também merecedor de enorme destaque na procura do (r)equilíbrio hídrico e energético. Adicionalmente, quanto melhor forem as qualidades físicas do jogador, menos prolongado no tempo será o processo de recuperação.
É fundamental que se entenda que um processo de recuperação desadequado ou inexistente não afeta exclusivamente o jogador, mas também os resultados coletivos da equipa e, consequentemente, as contas do clube. A implementação de políticas estruturais de recuperação física nos clubes permite que os melhores jogadores compitam mais vezes, mantendo-se a sua maior influência em permanência no terreno de jogo. Assim, os clubes terão um plantel mais curto, e maior verba para salários por jogador, atraindo-se desta forma jogadores de maior qualidade e, consequentemente, obter melhores resultados.
No caso acima mencionado do FC Porto, a recuperação dos atletas mais influentes é crucial para que o desempenho coletivo não seja comprometido e, consequentemente, que o clube se mantenha ao mais alto nível nas principais competições, garantindo a entrada de milhões nos seus cofres. Para o FC Porto, recuperar melhor que os adversários pode significar um encaixe financeiro de 32.4 M€: 17.4 M€ a curto prazo (pelas possíveis vitórias na Liga dos Campeões), e 15 M€ a médio prazo pela qualificação direta para a Fase de Grupos da Liga dos Campões da próxima época, caso seja campeão nacional.