Entre estados de alma, o debate público oscila no diagnóstico a fazer da situação económica do país. Vou abster-me de um vaticínio, focando-me no desafio lançado pelo Presidente da República e instâncias internacionais: o imperativo do Crescimento Económico. O que faz um país crescer rapidamente?
Num fascinante trabalho sobre determinantes do desenvolvimento económico, Ricardo Hausmann (Harvard) analisa indicadores de diferentes países e setores. A resposta é clara como água: países com economias complexas, elevada incorporação de know-how e grande conectividade crescem muito mais rapidamente que países de riqueza per capita idêntica, mas atividade económica pouco complexa e local.
Como exemplo, observemos às condições únicas de criação de valor ocorridas na Califórnia, decorrentes da confluência das indústrias de cinema e entretenimento e as tecnologias de informação e comunicações, originando o florescente setor de vídeo-jogos, com faturação próxima dos mil milhões de dólares anuais.
É um facto: setores complexos e conectados são os que detêm maior capacidade de alavancagem económica. Entre estes, o estudo destaca a saúde como um dos 5 clusters de maior potencial. O setor do medicamento é um motor económico de elevadíssimo risco e intensidade tecnológica, que movimenta colaborações e recursos só compatíveis com uma dimensão global. Se consultar os rankings globais de I&D, aí encontra 2 a 3 empresas farmacêuticas entre as 10 primeiras.
E há que salientar o desempenho europeu ao nível das equipas de investigação, do empreendedorismo e da ligação às empresas, num mosaico de colaboração que se estende à Academia, a serviços clínicos, consultoria, formação, etc. Apesar da concorrência, a Europa mantém a liderança, partilhada com EUA e Japão, recentemente desafiada por alguns países emergentes.
Por seu turno, Portugal tem visto crescer a produção científica e o registo de patentes, consolidados centros de investigação a uma escala compatível com a vontade de internacionalização, associando-lhes uma rede de competências clinicas e tecnológicas. Será suficiente para a internacionalização do setor?
Um estudo da Comissão Europeia sobre a internacionalização de I&D nas indústrias de conhecimento intensivo, como a farmacêutica ou electrónica, dá-nos respostas. Nele fica bem patente que a propriedade dos centros e projetos de I&D é detida por reduzido número de países – EUA, Japão, Alemanha, França, Suíça, Canada, Holanda –, enquanto a oferta de destinos de investigação está dispersa por muitos países que concorrem entre si.
Sem surpresa, o estudo indica que a capacidade inventiva de um país não é o primeiro critério na seleção destes destinos; o principal determinante parece ser a dimensão e atratividade económica do país de destino. Size matters.
Contudo, o desenvolvimento de competências específicas e projetos de I&D ligando equipas nacionais a empresas e instituições que funcionam como conectores internacionais (“hubs”) de investigação pode mitigar o efeito de periferia que Portugal tem padecido.
O desafio do crescimento residirá na nossa capacidade em aceder, em áreas estratégicas bem selecionadas, à rede colaborativa das empresas, setores e economias complexas e verdadeiramente globais. Que melhor área para começar do que o setor da Saúde e do Medicamento?