Os últimos meses têm-nos trazido um conjunto de experiências diferentes. Mais ou menos positivas, com elas, na minha opinião, todos tivemos a oportunidade de crescer e de olhar para o mundo através de uma lente diferente. Assistimos a eventos sem precedentes, transportes praticamente parados, navios nos estaleiros, aviões em terra e comboios quase fantasma sem passageiros dentro. Não obstante, embora isolados, continuámos ligados, à nossa família, amigos, colegas de trabalho, escola, clientes, fornecedores e todos os demais agentes da sociedade. Esta facilidade de contacto e acesso apenas foi exequível porque a infraestrutura de comunicações em Portugal, em particular, e globalmente, está de tal forma evoluída que num curtíssimo espaço de tempo foi possível alargar capacidades e colocar o “mundo inteiro” em casa, conectado, num novo normal. No epicentro da ação, as empresas de telecomunicações colaboraram com governos e entidades privadas dando resposta às suas necessidades, numa conjuntura sem precedentes.

Num contexto de incerteza, estas empresas conseguiram aumentar a confiança e o reconhecimento dos seus clientes e ganharam uma proeminência junto dos governos que hoje as consideram como um ativo estratégico, motivando, em alguns países, medidas protecionistas para minimizar eventuais impactos de ataques cibernéticos e/ou receio de espionagem. Este ciclo que agora vivenciamos, marcado pelo distanciamento social físico, mas de proximidade digital, fez com que a crescente procura por conetividade e serviços conexos crescesse a um ritmo mais acelerado. Este facto motiva, ainda mais, a evolução das redes existentes para uma nova geração mais evoluída e eficiente, com maior flexibilidade e capacidade de resposta, que promova uma maior ligação entre os diferentes atores da nossa sociedade e a otimizar o investimento no longo prazo, em paralelo.

Não obstante do referido, estudos recentes colocam em questão a preparação das empresas e dos sectores para esta evolução e qual o efeito no dia a dia das organizações. Num estudo sobre os principais riscos para a área de telecomunicações, publicado pela EY durante o mês de agosto, são os riscos de resiliência, capacidade instalada e de responder a cenários disruptivos os mencionados como dos mais relevantes, mas questões com colaboração entre os diferentes setores e as empresas de telecomunicações estão também patentes.

O “Survey Maximizing the 5G opportunity for enterprise”, conduzido pela EY, enfatiza o facto de a pandemia ter espoletado nos diferentes setores a urgência da digitalização e o aumento da resiliência e inovação. As redes de nova geração podem ter um papel importante neste contexto, na medida em que se constituem como um elemento catalisador para atingirem essa visão. Contudo, neste momento, nem todos os setores estão no mesmo estágio de evolução, a curva de adoção varia e muitos não reconhecem nas empresas de telecomunicações o parceiro para esta jornada.

Torna-se por isso critico promover a colaboração entre os diferentes players, levantar barreiras conceptuais e estereótipos e criar uma visão de compromisso que responda às necessidades dos diferentes negócios, que na sua génese são diferentes. Nesta fase, é crucial criar cenários direcionados para apoiar as empresas a ultrapassar a crise, mas é igualmente decisivo rever os portefólios de serviços de conetividade existentes e adaptar os mesmo para irem ao encontro da proposição de valor requerida por cada um dos setores e empresas, criando um ecossistema de colaboração.