Já todos percebemos que a pandemia nos vai afetar durante um período alargado, e também já sabemos que não conseguimos combatê-la sozinhos, por isso, é importante criarmos redes de solidariedade que nos aproximem para não deixar ninguém para trás. Em Lisboa há boas pistas.

Na capital, foi criada uma Rede Solidária na qual as pessoas que não integram grupos de risco da doença se podem inscrever para ajudar no apoio social àqueles que estão mais vulneráveis. Já se inscreveram para cima de 1.200 pessoas, sendo que estas já estão a ser contactadas para ajudar desde pessoas em situação de sem-abrigo, a idosos isolados ou pessoas identificadas como grupos de risco para a Covid-19.

Sem o apoio destes voluntários, seria impossível chegar tão longe (inscreva-se aqui na Rede Solidária de Lisboa). Por exemplo, há mais de 50 que já estão a apoiar pessoas em situação de sem-abrigo nas respostas de emergência criadas pela Câmara Municipal de Lisboa.

A autarquia, num esforço sem precedentes, abriu quatro centros de emergência para poder apoiar perto de 200 pessoas em situação de sem-abrigo, que aí dormem, comem, fazem a sua higiene e, mais importante, são objeto de cuidados de saúde e sociais. Muitas pessoas que vivem na rua e sempre recusaram soluções de albergues pediram ajuda à autarquia para se protegerem da pandemia, mas essa resposta só foi possível com a ajuda de dezenas de voluntários.

Nestas últimas semanas, tem-se verificado um acréscimo dos pedidos de alimentação na rua que vai muito para além das pessoas em situação de sem-abrigo. Famílias inteiras perderam os seus rendimentos por terem desaparecido os trabalhos informais, os pequenos biscates, ou a caridade tradicional.

Assim, foi necessário aumentar o número de refeições distribuídas na rua para alimentar as famílias que não têm capacidade para suportar uma ou duas semanas de paragem económica. No caso da capital, são as Forças Armadas que asseguram a distribuição das refeições e alimentos, num exemplo que podia ser alargado ao combate aos incêndios e outras catástrofes e que tem muito mais sentido do que ter tropas para fazer a guerra.

As juntas de freguesia de Lisboa também estão a dar um exemplo extraordinário no apoio às pessoas idosas, principalmente as que vivem isoladas. É sabido que a doença é mais letal para quem tem mais idade e, por isso, a ajuda que as juntas de freguesia estão a dar entregando em casa as compras e medicamentos é a melhor abordagem para manter os mais velhos protegidos e a salvo nas suas casas. Também aqui os voluntários estão a dar um importante apoio às respostas encontradas em cada bairro.

Os médicos, os enfermeiros, os técnicos de diagnóstico, os polícias têm estado na linha da frente do combate ao vírus e merecem toda a nossa solidariedade. Sem Serviço Nacional de Saúde estaríamos muito pior do que estamos, e sem Estado Social a mortalidade atingiria números elevadíssimos.

Contudo, nas últimas semanas, outras profissões – nas quais nunca ou raramente pensamos – ganharam visibilidade e estão, também elas, na linha da frente do combate à pandemia: os cuidadores de idosos em lares, os técnicos de apoio social, as trabalhadoras da limpeza, os trabalhadores da higiene urbana e todos os que trabalham nos supermercados têm prestado cuidados aos mais vulneráveis, ajudando-os a enfrentar o vírus, ou garantindo que não falta nada às famílias que se encontram em casa.

São estas profissões, que nunca têm visibilidade, tipicamente marcadas por questões de género, precárias e mal pagas, que constituem os alicerces da resposta à pandemia. Para essas pessoas também não pode faltar a nossa solidariedade: também elas são heróis e heroínas.