As redes elétricas europeias de transporte e distribuição de eletricidade precisam de um investimento de 650 mil milhões de euros até 2030.
As contas foram feitas pelo Goldman Sachs que destaca que a rede europeia tem 40 anos de idade tendo uma “forte necessidade de modernização”. Este valor implica uma “aceleração de dois dígitos no capex face a níveis atuais”.
O banco norte-americano destaca que as redes de distribuição e transporte precisam de ser “expandidas” e de tornarem-se cada vez mais “digitalizadas”.
O GS destaca os três grandes desafios: primeiro,”o aumento de ligações devido a energia renovável”; segundo, “novas infraestruturas eletrificadas na mobilidade e aquecimento”; terceiro, “necessidade de criar um mercado europeu de eletricidade mais interligado”.
Na rede de muito alta tensão, o GS prevê que o capex do sector venha quase a dobrar nos próximos 3/4 anos, com a maioria a ter lugar na Alemanha e no Reino Unido.
No caso da distribuição, o capex deverá acelerar em 50% nos países com crescimento mais rápido, como a Alemanha e o Reino Unido.
Na sua análise, o banco destaca o “retorno atrativo ajustado ao risco” das redes elétricas, e também devido a uma intensidade de capital mais baixa face às renováveis, logo com mais possibilidade de gerar lucros a partir de novos investimentos.
No caso do transporte em muito alta tensão, o GS estima investimentos na ordem dos 260 mil milhões de euros até 2030.
O envelhecimento é uma das razões para este investimento, mas o GS também destaca a meta de interligações entre países que deverá subir até 15%, com “cada país a precisar de cabos para transportar 15% da eletricidade produzida para países vizinhos”.
Um relatório do regulador europeu ENTSO-E aponta que estas interligações vão fazer a rede de transporte disparar dos atuais 93 gigawatts, para os 180 gigawatts.
A Comissão Europeia também identificou 11 corredores de energia prioritários que devem ser desenvolvidos, com Portugal a aparecer no gasoduto de hidrogénio com Espanha.
O banco destaca que na energia eólica offshore, cerca de 15% do investimento destina-se às infraestruturas de transporte de eletricidade. Com a Europa a ambicionar atingir 111 gigawatts de offshore até 2030, face aos 17 gigas de 2022, “acreditamos que as novas instalações offshore podem ser um grande transmissor de capex no transporte”.
No caso da distribuição, o GS espera que os investimentos atinjam os 400 mil milhões de euros. O investimento anual a partir de 2024 na Europa vai rondar os 40 mil milhões até 2030, com a Península Ibérica a precisar em média de quatro mil milhões de euros por ano.
Até 2030, a Europa tem o objetivo de atingir 1.236 gigawatts de energias renováveis, mais duas vezes face aos níveis de 2022. Na altura, a energia solar irá atingir 592 gigawatts, a eólica onshore 399 gigas, a eólica offshore 134 gigas, com as restantes renováveis a atingir 134 gigas.
No caso da mobilidade, em 2022 existiam sete milhões de veículos elétricos na UE/UK. Até 2030, o valor deverá disparar para 50-70 milhões.
Em relação ao aquecimento, as bombas de calor deverão dobrar para os 40 milhões na UE até 2030.
A digitalização vai ser crucial para lidar com a “volatilidade desencadeada pelo aumento da energia renovável no sistema” sendo necessário uma “melhoria significativa nas redes elétricas para lidar com o aumento da complexidade no sistema energético”, o que inclui sensores, software de inteligência artificial, melhorias nos transformadores.
No caso da EDP, a distribuição pesa 28% no seu EBITDA, o valor mais baixo entre as 10 empresas europeias analisadas pelo GS, com o GS a destacar a EON, a SSE e a Enel, como as “cotadas integradas melhor posicionadas”.
Olhando para as conclusões deste estudo, o líder da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) começa por dizer que apesar deste “problema ser global”, está “mais acentuado na Europa pois temos mais incorporação de renováveis”.
“As redes são insuficientes para os planos de descarbonização da sociedade, indústria e transportes”, afirma Pedro Amaral Jorge apontando para as metas previstas nas próximas décadas, sendo necessárias para “promover a independência energética, para importar menos combustíveis fósseis” e que vão contribuir para a “estabilização dos preços europeus da energia”.
“A rede elétrica tem de conseguir cobrir as áreas dos centros eletroprodutores renováveis. É preciso expandir a rede elétrica para o novo desenho energético do futuro”, acrescenta.
“É evidente que os investimentos que temos de fazer nas redes são substanciais, mas obviamente que vão permitir poupanças nos preços aos consumidores, através da redução da componente de energia. O que gastamos nas redes, vamos poupar acima desse gasto. Esse caminho tem de ser seguido, é preciso ter coragem política para o implementar”, defende Pedro Amaral Jorge.
Na terça-feira, o “Financial Times” noticiou que os países da Comissão Europeia terão de investir 1,5 biliões de euros por ano entre 2031 e 2050 para reduzir as emissões de gases e atingir a meta de carbono zero até meados do século.
Os valores fazem parte de um documento, ainda a ser redigido, da Comissão Europeia, revelado pelo jornal britânico.
Suster o aumento de temperatura em 1,5 graus centígrados, poderá salvar a UE de perdas económicas avaliadas em 2,4 biliões de euros entre 2031 e 2050 e reduzir a importação de combustíveis fósseis em 2,8 biliões durante este período.
Mas o caminho deverá ser difícil. Novas leis ambientais fizeram disparar protestos de agricultores nos Países Baixos, Bélgica, França, Alemanha ou Roménia perante alterações que implicam aumentos de custos. O líder francês Emmanuel Macron ou o belga Alexander De Croo já pausaram medidas depois dos protestos.
“Esta transformação dá-nos a oportunidade para construir novas oportunidades de negócios, de ser uma força líder nos sectores de energia limpa, estabilizar contas de energia, criar bons empregos para o futuro, melhorar a nossa qualidade de vida, e proteger-nos contra os piores efeitos dos riscos climáticos”, segundo o documento citado pelo “FT”.
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