Qual é a coisa qual é ela que é usada como muleta para socializar, que vicia, e que está provado cientificamente que prejudica a saúde se consumida em excesso? O tabaco, sim… mas também as redes sociais. O primeiro vicia-nos através da nicotina e prejudica a saúde física, o segundo vicia-nos através da dopamina e prejudica a saúde mental. A geração que promoveu a proliferação em massa do tabaco não estava na sua altura, completamente consciente da nocividade do tabaco. A geração que está hoje a proliferar as redes sociais também não tem plena consciência das consequências da permanente conexão a estas plataformas digitais, mas essa consciência está a crescer… E é um dos factores que já está a pesar nos números das empresas que detêm as principais plataformas.

Na semana passada, a Facebook reportou pela primeira vez uma queda trimestral no número de utilizadores activos diariamente na Europa (cerca de 279 milhões actualmente), e revelou perspectivas para o crescimento da sua plataforma e dos seus proveitos bastante mais contidas do que o que tem sido habitual.

A acção registou no dia seguinte uma queda de preço de quase 20% e a maior perda diária de capitalização bolsista de qualquer empresa da história (mais de 100 mil milhões de dólares). A Twitter também caiu mais de 20% no dia após divulgar os seus resultados trimestrais, onde também acautelou que o crescimento da sua plataforma pode ser quase nulo para os próximos períodos.

Nos EUA, o pico de consumo de tabaco ocorreu durante a década de 60, quando mais de 40% da população adulta era fumadora. Mais de 50 anos depois, a percentagem de adultos fumadores caiu para menos de metade.

É pouco provável que o pico de utilização das plataformas de social media em termos de número de utilizadores já tenha ocorrido, visto que os millenials ainda são bastante jovens, irão continuar a usar estas plataformas durante a sua vida e essa utilização será imitada pelos seus filhos. Mas se olharmos para os indicadores de envolvimento dos utilizadores da Facebook, onde vemos que 66% dos utilizadores mensalmente activos se ligam à plataforma diariamente, e aliarmos isso ao crescimento da consciência destes, acho que podemos assumir que o pico dos níveis de envolvimento está perto. Algo que, olhando para as quedas dos preços das acções da Facebook e da Twitter, o mercado também já parece estar a assumir.

Estas quedas de preço geraram nervosismo em relação às avaliações accionistas do sector tecnológico global, que se mantêm “caras” há vários anos, enquanto algumas estrelas do sector crescem a ritmos que podem parecer insustentáveis. Na minha opinião estamos perante um caso específico aos grupos que estão mais dependentes das plataformas de social media, e não perante um ajustamento que afectará todo o sector.

Se empresas como a Facebook e a Twitter têm concentrado os seus investimentos no segmento de conectividade social, focadas em atrair cada vez mais atenção dos seus utilizadores, com as consequências acima descritas. Concorrentes do sector como a Alphabet, a Microsoft ou a Amazon têm diversificado a sua expansão para segmentos sinérgicos com a sua estrutura vertebral, conseguindo expandir o seu negócio ao mesmo tempo que vão beneficiando o consumidor. Este foco no benefício do consumidor é o segredo para a sustentabilidade de crescimento de qualquer empresa, e os investidores sabem disso.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.