O matemático John Forbes Nash Jr, que inspirou o famoso filme “Uma mente brilhante”, protagonizado por Russell Crowe, morreu no sábado passado num acidente de viação em Nova Jersey. Mas a sua mente brilhante e a sua contribuição singular no mundo científico viverão para sempre.

John Nash, um teórico excecional, vencedor do Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel, revolucionou o estudo da teoria dos jogos. Nash, desenvolveu o estudo do equilíbrio dos jogos, baseado em normas de racionalidade. O equilíbrio de Nash representa uma situação em que, num jogo que envolve dois ou mais jogadores, nenhum jogador tem a ganhar mudando a sua estratégia unilateralmente, considerando que a estratégia de cada jogador representa a sua melhor resposta face às outras estratégias. A teoria dos jogos tem contribuído significativamente não só para a resolução de problemas económicos e socais mas também na resolução de conflitos internacionais, investigando e antecipando a posição e atuação dos agentes envolvidos nestes conflitos.

No atual contexto europeu, a teoria do Nash serve na perfeição para esclarecer a irracionalidade da atual estratégia grega e o inevitável desequilíbrio nas negociações entre o governo grego e os seus credores. Irracionalidade que afasta progressivamente a possibilidade de encontrar uma solução viável para o problema grego.

Sob o ângulo do equilíbrio Nash, a Grécia deveria admitir que é melhor cumprir o acordo do que prolongar o problema e colocar em risco a própria sobrevivência económico-financeira e social do país. Porém, a posição do governo Tsipra revela-se diferente.

A estratégia grega resume-se a prolongar o pagamento do seu empréstimo, anulando o antigo acordo assinado entre os credores e o anterior governo grego. Ao mesmo tempo, a Grécia não avança decisivamente, como prometido, com as reformas estruturais contra a evasão fiscal, a corrupção e a injustiça social, reformas indispensáveis para melhorar a desastrosa situação económico-política do país. Em paralelo, o governo grego anuncia novas e absurdas contratações no serviço público, e a provocante reabertura do canal público ERT, que pressupõe a recontratação de centenas de funcionários públicos.

Segundo Nash, existem vários fatores que podem determinar as crenças de cada jogador sobre as suas estratégias durante o jogo. No caso particular da Grécia, o governo helénico centra-se primordialmente na insustentabilidade da austeridade exigida ao povo grego, e menos na própria reestruturação da dívida, jogando assim a “carta de justa causa humanista”. Ao mesmo tempo, a Grécia joga a “carta russa”. De facto, Grécia foi convidada recentemente pela Rússia a aderir ao BRICS New Development Bank (NDB) e em vários outros projetos, inclusivamente no setor de energia, como é o caso do projeto que levará gás da Rússia à Europa via Turquia e Grécia.

Contudo, a ligação da Grécia com a União Europeia é única e insubstituível. As consequências da saída da Grécia do euro e uma eventual bancarrota do país seriam catastróficas para o povo grego, em tudo similar ao que aconteceu na Argentina no final da década de 1990. Todos os setores, do comércio ao turismo, saúde, e segurança serão afetados, agravando dramaticamente a crise humanitária atual. De igual forma, a saída da Grécia da moeda única teria consequências político-económicas graves para os restantes países da zona euro. Assim, as escolhas reais do jogo grego são somente duas: “win-win or lose-lose”.

Em face destas escolhas, torna-se evidente que a Grécia pode e deve promover o desejado equilíbrio “win-win” nas negociações, começando pela realização do prometido plano de reformas estruturais internas, e passando por uma proposta viável de recuperação e crescimento económico. O tempo está a esgotar-se.

 

Evanthia Balla

Professora universitária