É certo que, para os diferentes partidos políticos, essas reformas não são necessariamente as mesmas. Todavia, independentemente de onde venha, não deixa de ser uma crítica justa, já que nas últimas décadas nada de verdadeiramente estrutural foi feito para reformar o Estado e a economia do país. Somos uma economia que não cresce e, pior, que parece não ter estratégia para um dia vir a crescer.

Aproximando-nos a passos largos do final da legislatura, tudo indica que vamos sobreviver à estatização da economia, de que os mais pessimistas recearam quando, pela primeira vez, se formou em Portugal um Governo com o apoio dos partidos de esquerda. No entanto, apesar das boas notícias, nada de essencial mudou nas áreas-chave da economia. A justiça não deixou de ser (muito) lenta, os salários não deixaram de ser (muito) baixos, o interior não deixou de estar isolado e em processo de desertificação, a sustentabilidade da segurança social não deixou de estar ameaçada e a carga fiscal não deixou de ser insustentável para pessoas e empresas (ao contrário do que por vezes se diz).

No essencial, e mais uma vez, não houve reformas estruturais. Não houve agora, como também não houve antes com a troika, que se limitou a garantir que vendíamos os últimos ativos do Estado para pagar o empréstimo. Na verdade, apesar de avanços que aqui e ali foram tendo lugar, nunca se fez, nos últimos trinta anos, a reforma do Estado e da economia. Limitamo-nos a navegar à vista. E, pior, não há qualquer estratégia para que deixe de ser assim.

A questão é que se continuarmos sem reformar, e permanecermos a adiar procurar mudar verdadeiramente os fatores da nossa insustentabilidade, mais comprometido ficará o nosso futuro e o das gerações seguintes. Se não queremos continuar a ser um país adiado, é cada vez mais importante que exijamos a quem nos governa (agora e no futuro), que pense o país a várias décadas e não apenas com o horizonte das eleições seguintes. Caso contrário, mais do que um país adiado, seremos um país comprometido.