No momento em que se vai avizinhando o fim desta pandemia, a economia portuguesa encontra-se numa fase crítica em que se tem que conjugar a necessidade de equilíbrios de curto prazo, designadamente no domínio orçamental e das contas externas, com a criação de riqueza, emprego, exportações e substituição de importações, o que passa pelo reforço da confiança e do investimento.
A implementação eficaz do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode ser, em geral, um instrumento de modernização, mas assumindo serem as empresas o verdadeiro factor de criação de riqueza, devemos ter em conta que elas são geridas e organizadas por empresários, pessoas estas portadoras de diferenciados ímpetos reformistas e de inovação, uma das razões pelas quais algumas empresas deixam de ser competitivas num mercado cada vez mais global.
A questão que se coloca é se os empresários, eles próprios, assumem a necessária “cultura empresarial” portadora de inovação e progresso. Neste momento as circunstâncias parecem ditá-lo cada vez mais e temos disso diversos exemplos de sucesso. Mas há questões a superar.
Por exemplo, fala-se frequentes vezes da urgência na capitalização das empresas – aliás já nisso se fala há mais de 20 anos, aquando dos instrumentos disponibilizados pelo PEDIP – mas será que o tecido empresarial, constituído maioritariamente por empresas familiares, assume uma atitude (que também é cultural) de abertura do capital das respectivas empresas a terceiros, que tragam não só capital financeiro mas também um acréscimo de know-how nos domínios da gestão e da tecnologia?
Será que as empresas vão desenvolvendo com mais racionalidade acções de cooperação entre elas, quer ao nível da produção quer ao nível da distribuição, que de alguma forma conduzam a ações de redimensionamento empresarial?
Será que as empresas assumem como irreversível o fim de uma política de baixos salários, e se empenhem cada vez mais em obter níveis de produtividade e de criação de riqueza que assegurem tal virar de página? Não se aperceberão as empresas, definitivamente, de que é mais sustentável trabalhar com recursos humanos valorizados e motivados?
E, finalmente que papel podem e devem desempenhar as Associações Empresariais, como agentes representantes da classe empresarial, designadamente de empresas menos dimensionadas, pois as outras têm meios próprios para se lançarem.
Como quer que seja é de admitir que, numa altura em que se avizinha o fim da pandemia e em que se acredita não interessar à nova maioria governamental introduzir factores de imprevisibilidade ou de constrangimento, os empresários portugueses e suas Associações – no âmbito de uma renovada “cultura empresarial – possam retomar uma confiança mais consistente, sobretudo se algumas realidades, com diferenciação, se afirmarem de imediato no terreno.
A saber: redução de custos do contexto, em particular redução da carga fiscal e dos custos energéticos, superação do problema da descapitalização das empresas através da criação de instrumentos de capital e de quase capital; atribuição célere dos fundos comunitários disponibilizados, reforço da promoção internacional das empresas; desburocratização dos procedimentos de relacionamento do Estado com as empresas, e, finalmente, claros sinais de robustecimento do sistema financeiro nacional em ordem a assegurar um mais adequado, mas criterioso, financiamento corrente do tecido empresarial.
Como também não deve ser esmorecido o empenhamento na captação de investimento estrangeiro reprodutivo sob o ponto de vista económico e social.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.