Dos Estados Unidos aos países mais poderosos da Europa, o cenário eleitoral repete-se: as finais eleitorais passaram a ser disputadas entre a “moderação” e a “imoderação”. Depois do Brexit e de Trump é a vez de França. Este domingo ficaremos a saber se prevalece a fórmula “não há duas sem três”, ganhando Marine ou se “à terceira é de vez” e, finalmente, um projeto mais moderado e realista sairá vencedor com Macron. Uma coisa é certa: a história recente aconselha a que não se dê como garantido que o bom senso prevalecerá na hora do voto.

Independentemente de quem sair vitorioso, já é evidente o franco declínio do sistema partidário tradicional das últimas décadas no mundo ocidental, dominado por partidos moderados de centro. Resta saber se o seu desaparecimento será uma fatalidade ou se ainda terão alguma hipótese de regeneração.

Não faltam exemplos. Em Itália, há muito que o sistema foi substituído por uma espécie de caos democrático; na Grécia, o antes grande partido PASOK já quase que cabe num táxi; em Espanha, o parlamento passou a assistir aos beijos de Pablo Iglésias e o PP precisa do Ciudadanos para governar; nos EUA, o inenarrável Trump derrotou democratas e a face mais “normal” de Republicanos e, em França, Macron e Le Pen, pela primeira vez na história da V República, deixaram os dois grandes partidos do sistema a assistir à segunda volta das eleições pela televisão. Também no nosso Portugal os sinais de declínio são múltiplos.

Fala-se muito das razões económicas, sociais e políticas para o que está a suceder (que, obviamente, são relevantes), mas pouco das razões intrínsecas ao funcionamento dos partidos do dito centrão. Em primeiro lugar, estes partidos foram fundados e desenvolvidos por grandes estadistas, mas com o desaparecimento destes passaram a ser dominados por “carreiristas” profissionais. Assistiu-se a uma excessiva profissionalização da política que privilegia os que tiraram o curso de domínio da máquina partidária e afasta os que têm uma formação superior, uma carreira de sucesso e assente no mérito; além disso, uma parte relevante do eleitorado deixou de sofrer de “clubite” partidária e tem uma perceção (muitas vezes errada) de que as causas próprias de vários protagonistas têm prevalecido sobre as causas comuns. Por fim, as anteriormente poderosas máquinas partidárias de propaganda, controladas e controláveis por um único centro nevrálgico, foram ultrapassadas pela internet e redes sociais. Hoje em dia, qualquer bom demagogo com um razoável domínio das potencialidades do mundo virtual consegue ser mais eficaz do que um líder moderado com milhares de “jotas” de bandeiras levantadas num comício.

Portanto, o mundo mudou rápida e extraordinariamente, mas os partidos tradicionais, que tão importantes são para a democracia e para a essencial moderação ideológica, continuam a deixar-se consumir pelos seus próprios vícios. E o mais extraordinário é que discutem isto tão pouco que parece que nem estão a ver o filme.

É tão simples como isto: ou se refundam rapidamente ou vão desaparecer. O pior para todos nós é que o mundo não vai ficar melhor sem eles, nomeadamente se a alternativa for o radicalismo.