As próximas décadas serão decisivas. Está em causa o futuro da humanidade e do organismo vivo que é o planeta Terra. O sistema capitalista global está a destruir as bases ecológicas que sustentam as sociedades humanas. Se “pontos de não retorno” forem ultrapassados podemos assistir a um processo rápido e imprevisível de degradação ecológica e climática.

Os danos são já visíveis mas ainda estamos a tempo de evitar o colapso. São necessárias medidas e acções colectivas radicais para inverter este caminho e iniciar o processo de regeneração.

O problema é político. Como salienta o jornalista britânico George Monbiot, num artigo no Guardian, citando o professor Kevin MacKay, as oligarquias têm sido a causa fundamental de colapsos civilizacionais. O controlo oligárquico impede a tomada de decisão racional porque os interesses de curto prazo desses grupos dominantes são muito diferentes dos interesses de longo prazo das sociedades.

Isto explica porque é que civilizações antigas entraram em colapso apesar de disporem do “saber fazer” cultural e tecnológico necessário para resolverem as suas crises. O controlo oligárquico da riqueza, da política, da comunicação social, do discurso público explicam as actuais falhas institucionais para enfrentar a crise ecológica e social contemporânea.

Mais recentemente, a acrescentar ao controlo da comunicação social pelas elites financeiras e económicas, temos assistido à manipulação das redes sociais para beneficiar candidatos de extrema-direita, mesmo neo-fascistas (como o novo presidente do Brasil) que debaixo de uma máscara anti-sistema procuram aplicar as mesmas receitas neoliberais (agravadas) que contribuem significativamente para esta situação crítica.

Muita gente cai na armadilha e deixa-se enganar por narrativas e emoções destrutivas focando-se nos alvos errados: pobres, refugiados, imigrantes. As crescentes tensões sociais e políticas, o agravamento dos problemas, podem aumentar os riscos de uma nova guerra mundial. Albert Einstein terá dito que não sabia como seria a Terceira Guerra Mundial apenas sabia que a Quarta seria com paus e pedras.

O desafio é imenso e exige que abandonemos o comodismo, muitas distracções e nos mobilizemos. É com este desafio como pano de fundo que se realizam em Lisboa nos dias 23, 24 e 25 de Novembro a IV Edição dos Encontros Internacionais Ecossocialistas, na Escola Secundária Camões.

Na minha perspectiva é necessária uma reformulação do sistema internacional para fazer face a este desafio. São necessárias mudanças mais significativas do que as que foram realizadas no fim da Segunda Guerra Mundial, altura em que foram criados o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU), etc. Os eixos mais importantes (inter-relacionados) dessa reformulação seriam:

1) Um novo sistema monetário e financeiro internacional. Um sistema que não dependa do crédito criado por entidades e bancos privados. E que não dependa de um regime de crescimento económico (que beneficia sobretudo os mais ricos) e de consumo para além de qualquer necessidade razoável. O “privilégio exorbitante” do dólar norte-americano também devia acabar;

2) Um reforço do poder democrático dos povos. É inaceitável que tantas empresas privadas multinacionais tenham mais poder e riqueza que muitos Estados;

3) Uma renovação do sistema institucional para a cooperação e governança internacional. Uma reforma substancial da ONU seria o caminho mais óbvio, difícil mas fundamental.

Estamos perante tarefas colectivas que não são fáceis, mas como diz o ditado “a esperança é a última a morrer”. Com a força da vontade e da acção colectiva podemos superar este desafio civilizacional.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.