1. Depois da inquietação pública do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ficámos finalmente a saber: a Festa do Avante tem um plano de contingência. É inegável que adotou um vasto conjunto de medidas de adaptação à pandemia. Reduziu a lotação, aumentou a dimensão do recinto, instalou procedimentos vários e os diversos eventos específicos só terão lugares sentados. Até no comício final isso acontecerá.

Sabe-se como este evento é importante para as finanças do PCP – e eu, que já por lá andei de visita, posso testemunhar ainda de como é uma reunião popular, autêntica, que junta o político ao cultural, da música ao livro, sem esquecer a gastronomia. É um evento aberto a toda a gente, desde que sem preconceitos.

Mas, tal como na já distante manifestação da CGTP na Alameda, este processo coloca em causa a gestão da crise pelas autoridades de saúde. Parece, a muita gente, que na DGS existem dois pesos e duas medidas, consoante quem organiza e o setor social que organiza. E, no final, é difícil evitar uma suspeita: estas autorizações parecem muito alinhadas com as necessidades políticas e económicas do Governo e do PS, que tem um orçamento à porta para fazer aprovar.

E em política já se sabe: o que parece é.

2. A imagem de uma capa falsa do “The New York Times” a ilustrar uma notícia no “Jornal da Noite” da SIC é terrível para o jornalismo. Não é que a estação televisiva não tivesse feito, como lhe competia, o ‘mea culpa’ pelo erro. Fê-lo, e até prontamente. Desse ponto de vista não há nada a assinalar. O problema está no facto ‘daquilo’ poder acontecer, mesmo com o caráter de uma ‘ilustração’. Ou seja, de uma manipulação evidentemente grosseira e facilmente detetável conseguir atravessar toda uma organização e chegar ao ponto de aparecer ao público.

Acima de tudo, este caso dá-nos a dimensão de como os projetos jornalísticos em Portugal estão fragilizados, descapitalizados de massa crítica. ‘Aquilo’ só é possível porque os diversos níveis de alerta não funcionaram; não funcionam. Não é só na SIC. Vejo isso, com frequência, em vários órgãos de informação, escritos e falados, com e sem imagem. E em todos os títulos dos grandes grupos de comunicação social portuguesa. Aqui não há bons e maus.

A fragilidade do negócio tem um impacto violento sobre as competências instaladas. As pessoas trabalham sob pressão constante e violenta e o seu número é insuficiente em todas as áreas e departamentos. Os jornalistas conhecem a realidade, que se agravou na última década com o definhamento do modelo de negócio. O público começa agora a aperceber-se com mais frequência, mas a situação não é diferente do que acontece em qualquer atividade com gritante falta de meios, desde uma repartição pública a um serviço de saúde. Estamos todos a viver depressa, a tomar decisões cada vez mais instantâneas. Isso paga-se. Também nos media vai continuar a acontecer.

3. Milagres já nem em Fátima! Veja-se como a falta de receitas vai levar o Santuário a despedir até 50 trabalhadores, dos 308 existentes, devido à queda abrupta nas receitas causadas pela epidemia de Covid-19. Antes até já tivemos, em diversos pontos do país, padres que quiseram abrigar-se à sombra do lay-off.

Poder-se-á dizer que este é um caso demonstrativo de como nem a Fé está a salvo das regras da economia. Talvez. Eu prefiro salientar a conclusão de como, mesmo na Igreja católica, os lucros dos anos bons não servem para cobrir os prejuízos dos anos maus.

A Igreja, assim reduzida a uma vulgar empresa, causa impressão, má. E é nestas alturas que podemos lembrar-nos de como o Banco do Vaticano, o nome comum do Instituto para as Obras da Religião, tão dado a escândalos mediáticos, tem andado perdido em parte incerta. É um caso em que a tutela pouco tem ajudado. Muito melhor tem andado a política e, até, o futebol, com programas de apoio diversos. É uma constatação.