Sendo os textos sobre o futuro sempre um temerário jogo de previsões, valerá a pena pensar se existem pressupostos que, apesar da direção do vento, serviriam de guia para pensar 2025. Se mais nada permitir, este modelo poupará com certeza quem lê a enfadonhas teorias e sobretudo salvará quem escreve do enorme embaraço de acertar ao lado – ainda que se arrisque, a partir de cada pressuposto, uma aposta nacional para 2025.
Pressuposto #1: economia aberta
O primeiro desses pressupostos, fundacional, é a defesa de uma economia aberta. Libertem-se dos prognósticos que já conhecem: juros a descer, inflação a suavizar. Recordem antes a antiga teoria económica de Schumpeter, na qual o austríaco defendia o princípio de que a criatividade gerava destruição criadora de valor. Hoje simples de perceber, essa teoria representa uma evidência elementar e demonstra que esses rasgos trouxeram, de facto, enormes saltos de produtividade sem provocar tsunamis sociais. Na verdade, mais pessoas vivem melhor do que antes e essas conquistas devem quase tudo aos saltos tecnológicos que aceleraram a produtividade, geraram mais empregos, criaram maior riqueza e enterraram de vez a terrível equação económica dos rendimentos decrescentes. Só a defesa dessa economia imprevisivelmente positiva será capaz de continuar a fazer girar em 2025 um sistema onde, cabendo sempre mais aspirações individuais, se mantém o cimento dos objetivos coletivos.
Em Portugal, por isso, o ministro da Economia, Pedro Reis, é aposta para figura de 2025 – espera-se dele que crie os instrumentos para que a economia, sem desproteger o conjunto, se abra à novidade e à disrupção. Não se trata de desregulamentar às cegas. Trata-se de eleger os parceiros da economia privada que melhor interpretam esta ideia de disrupção responsável (criadora de emprego, geradora de valor) e desenhar o caminho. Parece fácil, e é realmente mais simples do que se supõe.
Pressuposto #2: eleições livres
Se a defesa comprometida do princípio de que uma economia aberta e imprevisível, mas perpetuamente criativa, é um seguro de vida, não é difícil deduzir que a garantia de eleições livres são o pressuposto mais firme e genuíno para enfrentar a imprevisibilidade política que ameaça 2025. Num texto curto, mas cristalino, o professor de Stanford Larry Diamond faz a defesa desta ideia na última edição da revista Foreign Affairs. Escreve ele: “Eleições livres e competitivas não são com certeza a resposta definitiva, mas são a maior garantia de gerar oportunidades abundantes de seguir na direção certa”.
O que Diamond está a tentar dizer, e que tinha já antes procurado defender no seu livro de 2008, “The Spirit of Democracy”, é que nada é mais transformador do que a possibilidade de mudar – e nada o garante mais eficazmente do que eleições livres. Por isso, mais do que discursos assustados contra as ameaças dos populistas, as democracias liberais precisam de proteger ferozmente o princípio da regulação ou, dito de outra maneira, o primado das instituições que se fiscalizam entre si, na conhecida dinâmica dos pesos e contrapesos, suportando desse modo a beleza da incerteza.
Em Portugal, os reguladores são, por isso, o centro das atenções em 2025. Neles não se incluem apenas os organismos oficiais de regulação – está igualmente a sociedade civil, onde os media são chave. Espera-se (deseja-se?) a emergência de vozes independentes e refrescadas que apontem riscos, sublinhem dúvidas e, sobretudo, façam perguntas.
Pressupostos #3: democracias liberais
Fica simples de perceber, portanto, a razão que torna tão evidente a defesa obsessiva das democracias liberais, isto é, de um mundo livre fundado no princípio das liberdades individuais e da responsabilidade coletiva, no qual a defesa de uma economia inovadora, de eleições competitivas, de reguladores fortes e de uma sociedade civil atenta são o cimento que nos segura em terreno incerto. As guerras continuarão em 2025, mas à luz deste pressuposto fica simples antecipar respostas para os conflitos em curso: se na Ucrânia a Rússia ameaça justamente a existência de uma economia aberta, a garantia de eleições livres ou a certeza de uma sociedade civil forte e de instituições robustas e independentes que se fiscalizam entre si, então a Rússia não pode ganhar. É decisivo em 2025 permanecer imune aos discursos hesitantes que encontram grelhas de cinzento para distinguir o branco do preto.
O mesmo acontece na descodificação do que pode vir a acontecer no Médio Oriente: ali combate-se a favor de uma sociedade fechada, luta-se para impedir que a veneração dos textos antigos ceda aos sinais da realidade. Aconteça o que acontecer, é fácil perceber onde está o lado certo da história.
Em Portugal, a figura será António Costa: se, na Europa que colidera, for capaz de endereçar as questões com esta simplicidade, então a sua conhecida habilidade para se movimentar no meio da tensão terá consolidado a ideia central da Europa: a verdadeira casa das democracias liberais.
Pressuposto #4: liberdade individual
É interessante antecipar a imigração, tema que continuará muito presente em 2025, à luz deste último pressuposto. Ao contrário do que acontece na simplificação dos populistas, a imigração não é o mal. Ela transporta a virtude da energia, fornece disrupção à economia e sustenta o mais essencial dos direitos humanos: a liberdade de movimentos, de pensamento, de decisão. É verdade que também desafia o mais primário dos deveres: o respeito pela cultura que se invade. Mas abrir as portas aos imigrantes não ameaça as democracias liberais. Henrique Burnay, num texto que publicou na revista do grupo Jesuíta no passado mês de outubro, resumiu bem o que está em causa: “Tudo o que a maioria dos imigrantes que aqui chegam querem é poder viver com a nossa prosperidade. (…) Se isso não nos diz nada sobre o valor que temos, nada dirá”.
A liberdade de cada um em tentar o melhor para si, livre da coerção dos outros mas limitado pela liberdade dos outros, é uma fórmula de tal modo simples que envergonha tudo o que a contraria – como as rusgas em pleno dia que selecionam quem encostam à parede pela cor da pele.
Em Portugal, 2025 será um ano chave para afirmar este pressuposto da liberdade individual no tema da imigração. Para o Governo, de quem se espera que crie políticas concretas que não sigam nem a palerma reação do Chega nem a pateta abordagem do Bloco, e nos empresários, de quem o ano exige políticas concretas que potenciem essa liberdade dos seus trabalhadores (locais ou migrantes). Parece ser esperar muito de 2025. Será?
Conclusão
Com estes simples e primários pressupostos não é difícil antecipar 2025. Será fácil, por exemplo, interpretar os histéricos que nos avisam sobre as ameaças da inteligência artificial ou, do lado oposto, os ingénuos que nos anunciam algoritmos como amanhãs que cantam. Será também evidente antecipar que as dúvidas sobre Trump não escondem, porém, uma certeza: ele vai fazer de maneira diferente. Melhor? Pior?
Em Portugal, julgo que tudo se jogará na forma como tanto a sociedade civil (onde está a economia), como a política, conseguirão transformar estes pressupostos em ações simples mas concretas. Bom ano a todos!