Inaugura este sábado na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, a exposição “só a imaginação transforma”. Obras de 33 extraordinários nomes do surrealismo português que são hoje pertença do Centro Português do Surrealismo sediado nessa mesma Fundação.
Hoje não é possível estudar o surrealismo português, ou sequer ter um retrato completo do surrealismo mundial,sem visitar a cidade de Famalicão e o Centro Português do Surrealismo.
O espólio de Cesariny está lá e lá se encontram obras de quase todos os artistas portugueses que, perto ou longe, navegaram as águas do “amor louco” de Breton. Cruzeiro Seixas, Isabel Meyreles, António Dacosta, Cândido Costa Pinto (sim o das capas das colecções Vampiro e Argonauta), Mário Botas, Pedro Oom , Alexandre O’Neil e tantos outros são a garantia de que “só a imaginação transforma. Só a imaginação transtorna”.
O tema não poderia ser mais apropriado na primeira exposição presencial do Centro Português do Surrealismo, após o alívio das restrições de espaço e tempo em que nos vimos envolvidos de há três meses para cá. A mensagem surrealista da imaginação como actuação do mundo remete para a “vida vivida” independentemente das condicionantes e limitações que o mundo à nossa volta nos cria. E nisso os surrealistas foram pioneiros ao afirmar que a liberdade (a imaginação, a vida, o amor) resiste ao poder, à doença e à própria morte.
Os surrealistas portugueses, melhor que todos os outros, sabiam bem do que falavam. Mesmo em ditadura – vide o panfleto de “Delfim da Costa, o cangalheiro da cidade” (Luiz Pacheco, Manuel de Lima e Natália Correia) – não deixaram de, ironicamente, homenagear os “que só estão vivos porque não têm onde cair mortos”.
Razões pois para celebrar o regresso à vida do Centro Português do Surrealismo, instituição única no país, que bem merece ser mais e melhor conhecida.
O autor escreve de acordo com antiga ortografia.