Muito se fala sobre a atracção do talento jovem que saiu do país, sobretudo desde 2008, e, claro, da retenção do talento que, entretanto, se vai formando.

A Business Roundtable Portugal, faz notar que cerca de 1/3 dos jovens entre os 15-39 anos vive hoje fora de Portugal, estimando-se serem cerca de 850 mil. Quem saiu e tem hoje entre os 35 e os 45 anos, ganhou 10-15 anos de experiência internacional, práticas de gestão diferentes, formas de estar e pensar e networks de contactos que podem aportar significativamente à competitividade das empresas e instituições portuguesas.

Atrair estes profissionais poderia ser de grande valia para o país, trazendo diversidade (a palavra da moda!) de ideias, pensamento, formas de estar, prática, i.e., uma mentalidade diferente que poderia enriquecer significativamente as organizações portuguesas.

Mas desenganem-se aqueles que acham que estes portugueses voltarão por questões remuneratórias ou de carreira. Num caso ou noutro, poderá acontecer. Mas a maioria volta porque está financeiramente mais estável, os pais estão a envelhecer e querem ver os netos, e o clima em Portugal é melhor do que na maioria dos países. Também voltam porque sentem que estão hoje em posição de contribuir para melhorar o País.

Os que querem voltar, sabem de antemão que as oportunidades são menores e os salários mais baixos. A decisão toma-se por motivos socioemocionais, e menos por motivos económicos. Mas tenho ouvido crescentemente casos próximos de portugueses que voltam com grande esperança e coragem, e passados um ou dois anos, voltam a emigrar.

Quais os motivos? Portugal não está preparado para os receber. Frustram-se com a lentidão com que as coisas se movem nas organizações públicas e privadas; com a arrogância e ignorância atrevida de chefes, colegas, funcionários públicos e privados; com os comportamentos defensivos de quem vê ameaçado o seu queijo, enfim, frustram-se com uma mentalidade castrante, chico-esperta e convencida, com o corporativismo e o paroquialismo de muitas elites.

Sim, as elites. O chamado tone at the top que cabe às elites: de dar o exemplo de conduta, de mentalidade de crescimento e de inovação, de abertura ao conhecimento e de respeito pelo outro.

Estes regressos falhados são particularmente tristes de ouvir e provocam a angústia daqueles que desejam o regresso. São portugueses que, na maioria dos casos, perdemos para sempre.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.