A intensificação da atividade regulatória por parte do governo chinês levanta sérias dúvidas acerca da manutenção do princípio “um país, dois sistemas”. Idealmente pensada para Hong Kong (embora haja quem defenda que foi concebida originalmente para Taiwan), a coexistência de um regime socialista com o capitalismo de mercado tem sido também colocada em prática na China continental com inegável sucesso do ponto de vista económico.

Depois das limitações à atividade de alguns gigantes tecnológicos locais no outono passado, nas últimas semanas a deriva regulatória intensificou-se, atingindo significativamente as atividades das maiores empresas de educação, imobiliário e entrega de refeições. Está criado um clima de incerteza, receando-se iniciativas semelhantes em outros setores de atividade e o resvalar para uma atuação ainda mais autocrática.

Os empresários estão assustados e não será de admirar que se adiem investimentos. As bolsas reagiram de forma muito negativa, com o índice bolsista de Hong Kong a recuar 20% desde março e 6,5% este ano. No caso do índice chinês mais representativo, as quedas são de 11% e 3,2%, respetivamente, o que compara muito mal com a valorização de 17% do S&P 500 em 2021. Por outro lado, o yuan desvalorizou para mínimos de três meses face ao dólar.

O governo justifica esta atitude intervencionista com a necessidade de limitar o poder das grandes empresas e criar melhores condições de vida para a classe média, favorecendo a natalidade, mas muitos analistas (internacionais) consideram as medidas como meramente populistas para apaziguar uma sociedade crescentemente crispada, enfatizando as raízes socialistas nas vésperas do 20º Congresso Nacional que poderá manter a liderança de Xi Jinping.

É um tema emergente e de análise complexa, mas estamos perante decisões com o potencial de induzir uma desaceleração da China, que tem sido a principal locomotiva do crescimento mundial nos últimos anos.