Somos uma das economias mais endividadas do mundo: 710 mil milhões de euros, quatro vezes o nosso PIB. Apesar deste pesadelo, não faltam políticos e comentadores a insultar credores e a exigir mais consumo e dinheiro. Entre os “artistas” há uma classe sem igual: a dos jornalistas. Como em outras áreas, muitos são avençados e outros só idiotas úteis, embora a maioria seja gente séria, mas só alguns conseguem ser desejados. Um deles é David Dinis, com um passado de elite em jornais como o Sol e o Observador e, recentemente, anunciado para a TSF, acabando Director do Público. Foi já nessas funções que a nove do corrente escreveu um Editorial (“Um Governo, duas estratégias?”) revelador do estado a que chegámos e da dificuldade em sairmos dele, usando a luta entre a Uber e os taxistas para se louvar no ministro do Ambiente: “a Uber existe porque os clientes a desejam.”

A entrada da Uber no mercado é uma boa notícia para os cidadãos, já que oferece mais diversidade e qualidade no serviço. Pena é que no mesmo Editorial se confunda “mercado livre” com “regulação”: “Regulamentar a Uber é absolutamente crucial para que um monopólio não seja substituído por outro. Sem regulação a Uber teria uma evidente vantagem competitiva que não faz parte de um mercado livre e aberto. É claro que regulamentar a Uber terá consequências para esta, vai entregar-lhe deveres, vai obrigá-la a supervisão, vai aumentar-lhe os custos e fazer subir os preços. É isso que é a lei do mercado.”

David Dinis aproveita – e bem – para contrastar a atuação deste Governo com a do anterior e por a nu contradições da geringonça: “o governo que está a liberalizar a Uber é o mesmo que entregou o monopólio do Porto de Lisboa (…) e se prepara para implodir o mercado de arrendamento temporário.” Só que insiste em misturar a “lei do mercado (livre e aberto)” com mais “regulação” para “entregar” deveres e subir preços. A regulação é mesmo a melhor amiga dos interesses instalados, a não ser que governos atrapalhados com as contas tomem a fatura eletrónica da Uber como mais um paliativo, ainda assim, obrigando a formação os seus motoristas, não os taxistas que, mesmo protegidos e subsidiados, acusam os outros de concorrência desleal.

Quanto à regulação, além de poder visar um resultado concreto ou tão-só o jogo limpo, há três formas concorrenciais de intervenção dos governos. A neoclássica, que privilegia a fiscalidade; a “public choice”, que prefere a motivação via incentivos de mercado (premiando e castigando); e o ponto de vista austríaco, que aposta na eliminação de barreiras à entrada. Será talvez o desconhecimento, comum entre nós, desta visão austríaca da economia que arrasta tanta gente boa para a tal identificação do “mercado livre e aberto” com “mercado regulado”.

Esperemos que a abertura, na Lusófona do Porto, de um Curso de Pós-Graduação em “Escola Austríaca de Economia” possa ajudar a inverter um caminho que, sem reformas virtuosas, nos irá conduzir à saída do euro e/ou à reestruturação da dívida. Um mundo onde a ‘troika’ será lembrada com saudade.