Natural de Benavente, saíra de Lisboa em direção a Luanda acompanhando um carregamento de mercadorias diversas, aportando no caminho nas ilhas da Madeira, Santiago, Santa Helena e São Tomé. Os primeiros navegadores, mais de um século antes, haviam descoberto no Congo uma sociedade complexa como um poderoso rei à cabeça.
Convertidos depois da chegada europeia, os reis congoleses adotaram nomes portugueses e fizeram os possíveis por recrear a sua sociedade à semelhança da ocidental, lucrando assim das trocas comerciais entre os dois reinos. Era uma parceria instável e teve os seus reveses e revoltas. Em Roma, Duarte Lopes narra as suas viagens a Filippo Pigafetta – explorador e matemático italiano – que, em 1591, as compila num volume em italiano, escrevendo assim uma verdadeira história de navegações e aventuras seiscentistas.
Graças a este registo, podemos ter uma ideia – nós que temos o mundo à distância de um clique e que perdemos tanto do prazer da surpresa e da descoberta – o quão espantoso terá sido o primeiro encontro com povos e animais tão diferentes, como as palavras terão parecido inadequadas para descrever algo nunca antes visto, como as comparações com o então conhecido terão soado estranhas e, como consequência, pouco críveis ou mesmo falsas.
Eis um exemplo: “Nasce ainda nesta região [Bamba, Angola] um animal a que chamam zebra, comum também a algumas províncias de Berberia e de África; o qual, sendo inteiramente da figura de uma mula grande, não é mula, porque pare filhos; e tem o pêlo muito singular e exceptuado dos outros animais, porquanto do espinhaço para o ventre é listrado de três cores: preto, branco e da cor de leão escuro, indo unir-se juntas as listras, largas cousa de três dedos (…)”. Era um admirável mundo novo.
Independentemente de eventuais dificuldades na descrição do desconhecido, o livro de Pigafetta, “Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas. Uma Verdadeira História de Navegações e Aventuras do Século XVI”, publicado pela Alêtheia Editores, é uma excelente fonte de informação histórica e geográfica – física e humana – com preciosos detalhes sobre distâncias, rios (e suas nascentes), costumes (incluindo armas de caça ou eutanásia).
A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante
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