Nos anos 90, ouvi e li muitas vezes que “se não tem uma licenciatura, não é ninguém na vida”, ou que “precisamos de doutores para fazer crescer o país”. Hoje em dia, é comum ouvirmos que “Portugal tem demasiados doutores”, ou “que agora quem é doutor não faz qualquer trabalho” ou, bem pelo contrário, “tirou uma licenciatura para estar na caixa de supermercado!” – sem desprimor para quem desempenha essa importante atividade no setor de retalho nacional (muito pelo contrário).

Em 2014, até a chanceler alemã Angela Merkel referiu que “existem muitos licenciados em Portugal”, pois na ‘sua’ Alemanha a base profissional é com quadros técnicos profissionais.

Já estamos habituados a que Portugal passe do 8 para o 80, e regresse do 80 ao 8 de uma forma alucinante. É a nossa natureza. O que isto quer dizer é que somos um país excecional e com capacidade de nos reinventarmos, em todos os momentos. Como? Com investimento na educação e transformação das novas gerações.

Mas quais os perfis em falta nas estruturas orgânicas das empresas?

Se analisarmos muitas empresas, o que encontramos? Vemos muitos extremos na pirâmide organizacional: licenciados, mestres e alguns doutorados, ou colaboradores sem qualificações técnicas mínimas. Duas extremidades que desequilibram os modelos de pensamento analítico e de execução operacional das empresas.

Por um lado, temos licenciados a definirem tarefas técnicas e sem foco em processos estratégicos, para os quais foram educados na licenciatura. Por outro, temos colaboradores não qualificados a executarem essas tarefas técnicas sem a base de conhecimento qualificado e sentido crítico.

Claro que o sucesso e insucesso destas tarefas, dependerá também do perfil individual de cada profissional, mas as suas bases de qualificações técnicas são o alicerce crítico nas suas funções empresariais.

Nesse sentido, faltam hoje no tecido empresarial português equipas técnicas, práticas e pragmáticas, essenciais às atividades operacionais. Precisamos de ter de novo profissionais do que, até aos anos 90, conhecíamos como bacharéis e que, felizmente, de há uns anos para cá, se estão a revitalizar em Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP).

A continuidade em instituições politécnicas de estudantes oriundos do Ensino Profissional e Secundário é essencial. Estes são cursos fundamentais que têm de ter o apoio claro do Ministério da Educação. São cursos, que pela sua formação em contexto de trabalho, automaticamente garantem a integração na vida profissional muito mais rápida que muitos cursos de licenciatura, em particular pela experiência prática e simples do “que é estar numa empresa”.

Mais recentemente tem havido a tentação de cometer o erro de encaminhar alunos de vias profissionais do secundário para licenciaturas tradicionais, à imagem do que foi feito há anos atrás com a destruição dos cursos de bacharelato. Não cometamos o mesmo erro!

Criemos prestígio para os CTeSPs que eles merecem. Ainda “agora foram criados” e já se está a desviar os alunos para novamente “serem doutores”… As empresas necessitam deste perfil de profissionais. Portugal necessita garantir um conjunto de quadros técnicos qualificados, práticos e pragmáticos que apoiem no relançamento do tecido empresarial português.

Um CTeSP é um curso profissional que tem um fundamento e uma razão de ser no país. E esse fundamento é ser o “óleo do motor” de muitas empresas!