Nas aulas sobre “liderança” costumo mostrar aos meus alunos uma palestra em vídeo intitulada “Como os grandes líderes inspiram à ação”. A dada altura, o orador Simon Sinek, afirma que Martin Luther King “não andava a apregoar sobre o que era preciso mudar na América. Dizia às pessoas no que acreditava (…) e as pessoas que acreditavam naquilo em que ele acreditava, acabavam por fazer da causa dele a sua própria causa transmitindo-a a mais pessoas”. Infelizmente, nos dias de hoje dificilmente conseguimos imaginar alguém, com excepção do Papa Francisco, que consiga motivar e arrastar consigo multidões.
Em Portugal, e no que à realidade política diz respeito, algo vai muito mal quando a taxa de abstenção atinge valores recorde ano após ano. Há um evidente desinteresse dos portugueses, ou, por outras palavras, os líderes partidários não os estão a conseguir cativar.
Um primeiro motivo para o afastamento poderá prender-se com o facto dos diferentes partidos fazerem praticamente o mesmo quando estão no poder, e de dizerem o contrário quando estão na oposição; dando razão àqueles que dizem que “são todos iguais”. Aplicando a lógica de Sinek, um partido deveria desde logo preocupar-se em reflectir sobre um conjunto de questões, por forma a se poder posicionar no xadrez político: qual é verdadeiramente a razão da sua existência? Qual é a sua visão de futuro para o país? Quais são as suas principais causas? O que é que o distingue dos demais? O que é que pretende mudar na sociedade portuguesa? E como é que o pretende fazer? Não é certamente propondo medidas avulso e vociferando “soundbytes” no Parlamento que se consegue conquistar as pessoas.
Um segundo motivo para o afastamento poderá estar relacionado com as próprias regras eleitorais. Em 2016 chamei a atenção para o facto de em Portugal continuar a vigorar a modalidade de sufrágio “lista fechada e bloqueada” que significa que só se pode votar numa lista, não havendo margem para manifestar preferências por candidatos. A liberdade do eleitor português é assim das mais reduzidas na zona euro. Como é que se pode combater a abstenção, quando os próprios partidos não confiam nos seus eleitores? Do que têm medo?
Se nada for feito para inverter este caminho de descrédito na política portuguesa – cujo principal resultado é uma abstenção que ronda os 70% -, então a nossa democracia poderá de facto estar em risco.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.