Está-se a falar em grandes investimentos públicos e há duas ideias gerais que deveriam ser consideradas. Em primeiro lugar, deveria haver um plano geral de investimentos públicos, que fosse discutido publicamente com bastante tempo, para se poder questionar o que é prioritário. Infelizmente, as discussões públicas em Portugal não têm sido genuínas, têm prazos ridículos e não há uma disposição genérica de ouvir a população e os especialistas.
Em segundo lugar, não faz sentido investir para melhorar uma solução que já existe e é razoável, em vez de investir em soluções que ainda não existem.
Se estivéssemos a discutir um plano geral de investimento, constataríamos que Portugal até está bem servido de infra-estruturas, embora haja carências em outras áreas. Dou só dois exemplos. Temos um problema muito grave de natalidade há 40 anos e ainda não há creches para todas as crianças. Queremos alargar o acesso ao ensino superior e há um défice gigantesco de residências universitárias.
Em relação ao plano do TGV Lisboa-Porto, não faz sentido por demasiadas razões: já temos uma razoável ligação ferroviária entre estas duas cidades; tem um custo de 4,5 mil milhões de euros para reduzir o tempo de viagem em 50 minutos; terá um preço muito elevado e servirá uma minoria de pessoas com rendimentos acima da média; deverá ter prejuízos de exploração, a serem suportados por todos os que não a usam; não tem utilidade no transporte de mercadorias; está pensado em bitola ibérica, o que gera a contradição de uma alta velocidade que necessitará de transbordo quando for estendido a Espanha (há 30 anos que o nosso vizinho começou a transição para a bitola europeia e em Portugal ainda não fizemos nada).
A duração da viagem no alfa-pendular não tem que ser um problema, se se resolverem dois problemas: o ar condicionado e o acesso à internet. Se o wifi for de qualidade, os viajantes poderão estar em teletrabalho e o tempo da viagem não será perdido.
Dentro do transporte ferroviário há alternativas muito mais interessantes: transportes públicos de qualidade nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto; uma ligação decente para Madrid; uma ligação à rede europeia, em bitola europeia, para transporte de pessoas e mercadorias. É importante salientar que, devido à preocupação em relação às alterações climáticas e ao tráfego automóvel, há uma discussão a nível europeu para limitar as viagens dos camiões TIR em trajectos até 300 Km, o que destruiria o nosso actual modo de transporte.
Em relação ao aeroporto de Lisboa, é preciso ter consciência de três alterações estruturais: a pandemia trouxe a generalização da teleconferência, que substituiu uma parte significativa das viagens de negócios, que representavam cerca de metade do tráfego aéreo; a preocupação com as alterações climáticas está a gerar uma pressão crescente contra o avião, o transporte mais poluente, que se deverá agravar nos próximos anos; há uma saturação crescente contra o turismo de massas, devendo a evolução ser pela qualidade e não pela quantidade.
Tudo isto desactualizou os cenários de subida de tráfego dos próximos anos, pelo que a única solução que faz sentido é Portela +1.