Um pouco à semelhança do que acontece na banca, as SAD dos clubes de futebol deveriam estar sujeitas a apertadas regras de compliance e de supervisão. Apesar dos tempos poéticos do futebol como desporto em si mesmo figurarem nos anais, ultrapassados pela nova era do futebol-negócio, a verdade é que estamos a falar de um importante segmento da indústria mundial do entretenimento.

Um negócio de massas, suportado pela emoção dos adeptos e que movimenta milhões, como o provam a recente transferência de Ronaldo do Real Madrid para a Juventus, ou o falsear de resultados desportivos pela FIFA, em prol da garantia de maiores audiências televisas para os jogos do mundial.

Acresce que os clubes são agremiações colectivas de interesse públicos, que, à margem da montra do futebol profissional, suportam uma série de modalidades amadoras e garantem um futuro melhor aos milhares de crianças e jovens candidatos a estrelas. Por tudo isso, e voltando ao início deste texto, os clubes e os seus dirigentes deveriam estar sujeitos a regras muito restritas de compliance e supervisão.

Vem isto a propósito do anúncio, pelo ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, de que tenciona recandidatar-se ao cargo.

Um líder emocionalmente fraco, com comprovadas deficiências ao nível da gestão e cuja incompetência gerou largos prejuízos para o clube, que destruiu uma equipa de jovens talentos candidata ao título de campeã nacional e criou uma crise de reputação ao clube, anuncia, uma semana depois de afastado compulsivamente da liderança pelo acumular de maus actos, que tenciona recandidatar-se.

Como os financeiros, um líder desportivo afastado no meio de tanta celeuma, deveria ter as suas capacidades limitadas até que se apurem todos os factos e, caso se constatassem irregularidades graves, deveria mesmo ser inibido, durante um determinado período, de desempenhar funções de gestão na área. E o que deveria ser válido para Bruno de Carvalho, deveria sê-lo, também, para qualquer dirigente desportivo nas mesmas condições.

O universo do futebol não pode transformar-se numa República das Bananas. Afinal, estamos na Europa, não na América latina.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.