[weglot_switcher]

Requalificação das pessoas é o principal desafio da digitalização da economia, alerta presidente da CIP

A industria 4.0 foi o mote da segunda edição do JE 30′ a 3, organizada pelo Jornal Económico e o Montepio Crédito. António Saraiva, presidente da CIP, foi o convidado que, juntamente com Pedro Gouveia Alves, presidente executivo do Montepio Crédito, reconheceu que o maior desafio da digitalização da economia é a requalificação das pessoas.
  • Cristina Bernardo
27 Agosto 2019, 19h20

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, defende que digitalização da economia, ou industria 4.0, cria não apenas um “desafio”, como uma “oportunidade” para a requalificação de tecido empresarial português. Mas alertou que “é necessário que exista uma correta articulação entre o poder público e as empresas”.

“A qualificação e a requalificação dos recursos humanos é o principal desafio criado” pela digitalização da economia, começou por referir o presidente da CIP, na segunda edição do JE 30′ a 3, um ciclo de conferências mensais organizadas pelo Jornal Económico e pelo Montepio Crédito, que se realizou esta terça-feira no restaurante Olivier Avenida, em Lisboa, sobre a industria 4.0.

Simultaneamente, “é com a qualificação e requalificação dos recursos humanos que vamos vencer os desafios da digitalização da economia”, defendeu António Saraiva. E deu a receita: “é necessária uma correta articulação entre o poder público e as empresas, as escolas e as universidades”, vincou.

Em janeiro deste ano, a CIP publicou um estudo segundo o qual a robotização e digitalização de alguns setores da economia poderão extinguir 1,1 milhões de postos de trabalho nos próximos dez anos. Questionado sobre este risco, António Saraiva referiu que “se as corretas políticas forem executadas, compensarão [a perda] porque se criarão novas potencialidades”.

“Eu não não olhava para esse estudo como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade, estamos a tempo de requalificar os recursos humanos”, disse António Saraiva.

As empresas nacionais estão atualmente em melhor posição para investir na requalificação dos recursos humanos por comparação com os anos da crise, e assim tornarem-se mais competitivas no comércio internacional.

Pedro Gouveia Alves, presidente executivo do Montepio Crédito também realçou que processo de automação terá mais impacto no processo de fabricação, “que no fim do dia vai contar para a capacidade competitiva os empresários portugueses, na União Europeia e no espaço global”.

O banqueiro defendeu que as empresas portuguesas têm levado a cabo um “trabalho árduo e difícil” nos últimos anos, nomeadamente na redução de alavancagem. “As empresas chegaram a ter uma endividamento de 127% entre 2013 e 2014 e hoje têm um nível de alavancagem de 95%”, disse, demonstrando que a capacidade de investimento das empresas portuguesas é atualmente mais sustentável para fazer à necessidade de requalificação dos recursos humanos.

“É preciso despertar consciências”, alertou António Saraiva. “A questão da digitalização afeta todas as empresas. E, de modo geral, têm de perceber a alteração da morfologia do posto de trabalho porque, muitas vezes, no mesmo posto de trabalho, interagem três ou quatro funções”, explicou o presidente da CIP. “Por isso é que é importante a requalificação dos nossos recursos humanos. [Com a digitalização] o posto de trabalho não é perdido, é transformado”.

A requalificação dos recursos humanos deve ser um esforço articulado entre o poder público, as empresas e os próprios trabalhadores, defendeu o presidente da CIP. “A requalificação da mão-de-obra deve passar pelo Estado porque ganha e fica melhor preparado. As empresas, porque com melhores competências, ficam mais capazes para a diferenciação e para a inovação. E as pessoas porque, requalificando-se, vão ter melhores capacidades de manter emprego ou de arranjar novos empregos”.

Por sua vez, Pedro Gouveia Alves reconheceu que “vivemos num momento de grande desafio do ponto de vista da gestão demográfica”. “Temos distritos em que a população não ativa representa dois-terços desses locais. Distritos como Braga, Bragança e Portoalegre em que mais de 60% da população é inativa. Por isso, se não formos capazes de criar as condições para desenvolvimento da requalificação, não estaremos a trabalhar para ultrapassar esse desafio”, argumentou.

Além disso, o presidente executivo do Montepio Crédito considerou que “há interesse em requalificar as pessoas porque elas são tão escassas”. Caso contrário, se não houver um desenvolvimento da requalificação da mão-de-obra, ” estaremos a perder esse desafio o da produção de riqueza”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.