Apesar da trilogia infernal da dívida, da austeridade e do euro, há um país a procurar uma saída de futuro. Do comércio electrónico aos novos materiais, do design à robótica, dos novos modos de produção à gestão de grandes volumes de dados, emerge um paradigma económico assente em novas tecnologias. Esta revolução industrial tem efeitos disruptivos. A sociedade e as empresas terão de ajustar-se a uma mudança que criará novos vencedores e vencidos. A questão não é saber se vai ocorrer, mas se seremos um centro dinamizador dessa mudança. E até que ponto beneficiará o conjunto do país.

As outras revoluções industriais chegaram com décadas de atraso. Sem acesso a combustíveis, longe do centro europeu, em instabilidade política ou ditadura, ficámos de fora. Os países concorrentes mantêm o avanço até hoje. Mas a nova fase não precisa de carvão ou petróleo e procura lugares com uma boa relação entre infra-estruturas, talento e custos. O país não é periférico. Estamos no centro da área com o tráfego comercial mais intenso do mundo, que se estende de S. Francisco a Varsóvia.

O Governo quer consolidar um programa para o sector: linhas de financiamento, apoios a pequenos e grandes investidores, bolsas para os criativos, redes de incubadoras e apoio à internacionalização de ‘startups’. A estratégia para a Indústria 4.0 é esperada com interesse. Colocar estas questões na agenda e articular empreendedores e políticos com optimismo reforçou a confiança. A projecção de um Portugal inovador já atraiu novos investidores e criativos.

O símbolo desta renovação é o alojamento da Web Summit no país, ganho pela Câmara de Lisboa com o apoio do anterior governo e do vibrante ecossistema ‘startup’ nacional. Ter as várias áreas políticas alinhadas para lidar com a economia do futuro é essencial. Mas foi o tal ecossistema que permitiu esta vitória, nascido de políticas e de condições permanentes.

O Start-Up Lisboa é um caso de estudo. O país faz inveja na digitalização dos serviços públicos, na qualidade das infra-estruturas e das ligações electrónicas e no empreendedorismo. Já no início da velhinha Estratégia de Lisboa, o número de diplomados em ciências, matemática e engenharia ultrapassava as metas europeias. Investidores e criativos falam de um ambiente entusiasmante e do talento no país. As bases estão lançadas. Uma estratégia inteligente de incentivos e visibilidade pode gerar os primeiros frutos.

Mas não haja ilusões: lançar uma ideia e uma empresa implica riscos avultados e fracassos. Acresce que a economia nacional é dominada por PME endividadas, em sectores de baixa intensidade tecnológica, com mão-de-obra e dirigentes pouco instruídos. O ambiente dinâmico elogiado limita-se a um circuito e deixa de fora muito do país por razões estruturais.

A formação da população activa é baixa e há-de manter-se nas gerações seguintes: segundo a OCDE, só 33% dos jovens tem grau superior. A Eurydice diz termos das mais caras propinas da Europa, com uma cobertura ridícula de bolsas (23%). A formação de novos doutorados e a sua absorção pelo sector privado diminuiu, tal como o investimento em I&D. E a ciência nacional especializou-se em áreas diferentes das empresas tecnológicas, sinal da sua fraca cooperação.

Em oposição a este modelo estão sociedades avançadas como a Alemanha, que aboliu as propinas e canaliza crescentes investimentos. Vários países querem liderar esta revolução e proteger o seu bem-estar social. A nova economia dispensará milhões de empregos desqualificados. Isso é particularmente grave para o país. A viabilidade do nosso sistema económico e social exige uma estratégia mais arrojada de educação.

Uma economia do conhecimento assenta numa base qualificada para recrutar mão-de-obra, gerar inovação e alimentar a procura destes bens e serviços. O arranque até pode fazer-se com um nicho e atraindo talento estrangeiro. Mas, para ser sustentável, esta revolução deve resgatar a maioria dos portugueses.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.